Considerando o
principio eterno de que o Evangelho é as boas novas de que Jesus veio ao mundo
para salva-lo, não para condená-lo, temos que avaliar nossas teologias, e no
caso específico a teologia da prosperidade. Quando falo de avaliar nossa
teologia, quero dizer a forma como criamos o discurso de apresentar o evangelho.
Não quero dizer que devemos modificar nossa teologia, no sentido de modificar a
mensagem ou a doutrina da Bíblia, pois fizéssemos isto estaríamos relativizando
a fé, e criando um “Cristo” segundo nossa visão ou segundo nossa necessidade.
Não quero dizer que a verdade bíblica pode ser modificada, e sim que a verdade
pode ser revelada de forma mais compreensível, quando adaptamos o discurso a
cosmovisão do ouvinte. Não existe vários “Cristos”, Jesus é o mesmo, somente a
forma como descobrimos ele é que pode ser diferente. E como Jesus é a exata
imagem do Criador, e Ele mesmo é ressuscitado o próprio Criador, agora unido a
humanidade, por causa de sua encarnação, Ele é infinitamente revelador. Jesus
revela a Verdade, pois Ele é a Verdade, como Ele mesmo disse, e n’Ele a Verdade
é Viva e Eficaz. Uma Verdade Viva é uma Verdade que se relaciona com o ouvinte,
e é uma Verdade que preenche a necessidade individual.
Considerando o caso
específico aqui em Angola, analisando a teologia da prosperidade, como é
chamada, esta tese que promove uma visão de Deus do ponto de vista da
prosperidade, trago uma contribuição de um professor num encontro promovido no
INAR. O INAR é o órgão do Governo Angolano, do ministério da Cultura, que trata
dos assuntos religiosos. O Dr. Vicente Pinto de Andrade, professor economista
da Universidade Católica de Angola, em sua palestra no Workshop de Luanda (14 e
15 de junho de 2011) promovido pelo INAR (Instituto Nacional de Assuntos
Religiosos), fez algumas afirmações interessantes no estudo da Prosperidade.
Conforme Andrade: “Aqueles que vêem na globalização uma ideologia, em parte,
têm razão, devido ao fato da ideologia neoliberal ter sido, durante os últimos
anos, a ideologia hegemônica da globalização.” Após esta afirmação, o Dr.
Andrade afirma que o neoliberalismo veio da filosofia protestante intitulada
“ética do trabalho”. Este pensamento que foi formulado pelo pensador Max Weber,
um protestante, e podemos ver já a “teologia numa linha de prosperidade”. O
Protestantismo promoveu uma visão de prosperidade, e nos EUA, encontramos esta
linha já formulada, e adaptada ao contexto fundamentalismo norte americano,
criando uma cosmovisão dentro de uma prosperidade econômica e material que os
americanos viviam. Continuando o Dr. Andrade também diz: “A moral do sucesso
contagiou gerações de gestores e de políticos, que começaram a cultuar a
prosperidade e o consumo, glorificaram as recompensas materiais e a sua
fruição, desprezaram aqueles que foram considerados por eles os ‘vencidos da
vida’, ‘os perdedores’, acentuando, assim, as ambições individuais, o
enriquecimento rápido e fácil, a realização pessoal. A moral do sucesso repousa
na vontade incontida de o ‘vencedores’ se distinguirem e de desdenharem a
multidões, os pobres, os velhos, os desvalidos, os desprotegidos, legitimando,
deste modo, a boa fortuna e fazendo dela o discurso oficial”.
Começo nossa reflexão
considerando uma pergunta: Quem são os “vencidos”? “Os perdedores”? Será que de
fato o motivo que os classificou assim é a capacidade individual, ou as
condições atribuídas a eles, ou ainda a permissividade dada pelo sistema
imperante no mundo? Neste caso a teologia da Prosperidade tem uma resposta para
os “perdedores” ou os coloca num ambiente de penalização? Ou ainda os empurra a
um ambiente de marginalização? Não digo que seja isto, mas pergunto se na
prática tem sido isto, pois muitas vezes o discurso é emocionante, convincente
e carinhoso, mas a prática é a demonstração do avesso.
O discurso dos que
aderiram à teologia da Prosperidade, principalmente os neo pentecostais,
demonstra uma busca de inclusão de todos no processo de prosperidade. Creio ser
uma expectativa sincera a inclusão, e não a exclusão, pois se fosse a exclusão
teríamos que considerar os “pregadores da prosperidade” como não Cristãos.
Infelizmente muitos querem taxar estes pregadores de “charlatães” e
“aproveitadores”, mas isto já é em si um preconceito e um julgamento baseado na
hipocrisia dos que utilizam do sistema para se beneficiar, e “fecham os olhos”
ao seu lado para os necessitados. O que quero dizer é que é fácil julgar estes
pregadores, sem ter uma resposta, que eles dizem ter. Não posso acusar sem
procurar compreender considerando o réu inocente, até que se prove ao
contrário. Mas se considerarmos que
estes pregadores tem o pensamento de incluir a todos através da fé, precisamos
pensar no impacto que esta teologia pode trazer para a sociedade angolana, e
este é nosso dever como igreja angolana. Mesmo sendo estrangeiro em Angola, não
sou estrangeiro na igreja angolana, pois não há estrangeiros dentro do corpo de
Cristo. Somos um povo somente, a Igreja de Jesus Cristo. Não há estrangeiros
dentro da Igreja, como disse o Apóstolo Paulo, “não há judeus ou gregos”, todos
somos um em Cristo.
Continuando com o Dr.
Andrade em seu discurso no Workshop em Luanda, ele demonstra uma ligação intima
da ideologia da globalização com o pensamento da “moral do sucesso” como ele
conceitua. Esta “moral do sucesso” tem uma ligação muito forte com a teologia
da prosperidade, que se formou junta na sociedade norte americana. Talvez
pudéssemos até afirmar que a “moral do sucesso” seria uma conseqüência do
fundamentalismo norte americano. Esta ‘moral do sucesso’ promoveu na política o
neoliberalismo, e na igreja evangélica produziu a teologia da prosperidade.
Sabemos que sempre a Igreja, sendo formada de pessoas, e Igreja são pessoas, não
uma instituição ou prédios, ela será influenciada pela filosofia política do
país que a igreja está vivendo. A origem desta ‘moral do sucesso’ tem haver com
a ordem política e econômica mundial depois da segunda guerra mundial. Com a
ascensão do poderio americano, que se confirmou com o fim da guerra fria, e o
desmantelamento da antiga URSS, o pensamento neoliberal conquistou as duas alas
políticas mundiais. Tanto o capitalismo como o socialismo se adaptaram ao novo
modelo mundial que busca ser o unificador criando uma ‘nova era’ como alguns
chamam, e como alguns creem. Mesmo o pensamento da ala liberal do socialismo
percebeu a necessidade de uma nova estratégia de unificação no contexto global
reinante e em processo de dominação. A ‘moral do sucesso’ teve suas bases nos
EUA, com o fundamentalismo que promoveu a idolatria do sucesso ou da
prosperidade. O sucesso se confundiu com a prosperidade, e o materialismo se
confundiu com o sucesso. Para muitos, ou a maioria hoje, o sucesso está ligado
aos bens materiais, ao poder, e a individualização, ou melhor, o hedonismo
egoísta, que prefere a si mesmo, que a distribuição de renda para a melhor
qualidade de vida da sociedade. É fato que a renda mundial se concentra em um
grupo ínfimo e quase não muito conhecido. A prosperidade que os ricos
experimentam ainda não é quase nada do que os que controlam os movimentos de
pensamentos dominantes e dominadores. Contudo a maioria da população humana
hoje sonha com participar do grupo que se chama próspero. E este ideal
globalizado atingiu a teologia e a igreja. A Igreja que vive um momento
histórico pós moderno, criou uma teologia da prosperidade que na verdade, é
fruto desta “moral de sucesso” difundida nos “discursos oficiais”, como diz o
Dr. Andrade.
Os aderentes da
Teologia da Prosperidade devem sempre considerar que o inclusivismo é o ponto
fundamental para que esta teologia não se torne anti-cristã. Até que ponto que esta
prosperidade inclui a todos, e busca a prosperidade para todos. Podemos e
devemos discutir as teses bíblicas que fundamentam este dogma. A exclusão é
promover o preconceito, o orgulho e condenar os excluídos a destruição e a
falta de salvação. Paremos um pouco e repensemos através desta minha última
afirmação que parece absurda, mas é uma conclusão dentro da lógica teológica
apresentada nesta tese, ou seja, “falta de salvação” proveniente da “falta de
prosperidade”. Não parece um pouco estranho que o material intervenha na
salvação, mas alguns diriam que “sem pão”, “sem fé”, ou talvez seja na lógica
da tese “sem pão, provando sua falta de fé”. A lógica absorve, mas não retira a
verdade clara que diz ser a salvação proclamada a todos, conforme uma ordem de
Jesus. “Pregai a toda Criatura”, neste caso todos estão incluídos para os
benefícios da salvação de Cristo. Uma teologia nunca pode excluir, mas sempre
incluir o perdido.
Concluo sem rejeitar a
teologia da Prosperidade, mas sendo um constante questionador da biblicidade
deste novo dogma, e digo isto, pois sei que não somos os detentores da
revelação plena de Deus nestes últimos dias; e sempre lembrando que novas
revelações sempre trouxeram impactos de reformulação de pensamentos; sim,
concluo dizendo que creio convictamente que o fator de acréscimo desta teologia
em Angola e em qualquer país do mundo é a manifestação do inclusivismo, ou
melhor, é incluir todos nos benefícios provenientes da fé. O exclusivismo pode
ser uma característica negativa, herética, e anti-cristã. O exclusivismo é
limitar o beneficio para um grupo selecionado, exclusivo. Isto faz deste grupo
exclusivo e exclusivista um grupo superior, como se Deus fizesse acepção de
pessoas. Se tornando conforme os padrões sociológicos apresentados na Ciência
da Religião, uma “seita”, e não uma religião. Relembro para o aprofundamento da
análise apologética que o “padrão citado deste fenômeno religioso” que diz ser
um grupo fechado, exotérico e com crenças perigosas, uma “seita”.
Não quero incluir na
discussão a doutrina da eleição, quero apenas considerar que Deus dá o “sol
para o justo e para o injusto”. O inclusivismo deve então para ser benéfico
proporcionando as mesmas condições de acessibilidade dos ‘ganhos’ desta
prosperidade divina. Como dar a todos a acessibilidade que a Bíblia diz que todos
podem ter, ao receberem a salvação de Jesus, que nesta corrente evidencia a
prosperidade? Seria a fé a forma de igualar todos os salvos? Estou considerando
o pensamento da teologia da prosperidade que inclui no termo “salvo” a
“prosperidade”. Então Jesus nos salva prosperando. As igrejas devem considerar
que não podemos ser influenciados pelos modismos da pós modernidade, temos que
estar convictos de nossa fé bíblica, que leva as ‘boas novas’ que neste aspecto,
inclui a prosperidade no conceito da teologia da prosperidade, para todos os
homens. Neste caso qualquer sociedade pode obter os benefícios da prosperidade,
seguindo os princípios bíblicos, isto não significa que está à disposição de um
grupo institucional da Igreja, e de novo considero Igreja como o Corpo de
Cristo. Nenhum grupo é detentor dos benefícios de Deus, os benefícios foram
dados a Igreja e a todos que querem seguir o padrão estabelecido por Deus. E
mesmo a Igreja somente tem quando segue este padrão divino.
Porque “Deus amou o
MUNDO (todos os homens, sem exceção), de tal maneira que DEU (deu a todos), seu
Filho Unigênito (com todos os benefícios que o Filho traz para a humanidade)
para que todos (sim todos, todos incluídos, sem exceção) que nele crêem tenham
a vida eterna (aqui sim demonstra a individualidade, com a decisão de querer e
crer, permitindo o livre arbítrio sem imposição, e isto não pode ser dado por
governos, famílias ou igrejas, é pessoal)”. Aqueles que querem terão, os que
não querem não terão. Mas aqueles que querem tem que crer para ter. Mas quem
crê? E no que crê?
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