terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Caso Específico da Teologia da Prosperidade em Angola


Considerando o principio eterno de que o Evangelho é as boas novas de que Jesus veio ao mundo para salva-lo, não para condená-lo, temos que avaliar nossas teologias, e no caso específico a teologia da prosperidade. Quando falo de avaliar nossa teologia, quero dizer a forma como criamos o discurso de apresentar o evangelho. Não quero dizer que devemos modificar nossa teologia, no sentido de modificar a mensagem ou a doutrina da Bíblia, pois fizéssemos isto estaríamos relativizando a fé, e criando um “Cristo” segundo nossa visão ou segundo nossa necessidade. Não quero dizer que a verdade bíblica pode ser modificada, e sim que a verdade pode ser revelada de forma mais compreensível, quando adaptamos o discurso a cosmovisão do ouvinte. Não existe vários “Cristos”, Jesus é o mesmo, somente a forma como descobrimos ele é que pode ser diferente. E como Jesus é a exata imagem do Criador, e Ele mesmo é ressuscitado o próprio Criador, agora unido a humanidade, por causa de sua encarnação, Ele é infinitamente revelador. Jesus revela a Verdade, pois Ele é a Verdade, como Ele mesmo disse, e n’Ele a Verdade é Viva e Eficaz. Uma Verdade Viva é uma Verdade que se relaciona com o ouvinte, e é uma Verdade que preenche a necessidade individual.

Considerando o caso específico aqui em Angola, analisando a teologia da prosperidade, como é chamada, esta tese que promove uma visão de Deus do ponto de vista da prosperidade, trago uma contribuição de um professor num encontro promovido no INAR. O INAR é o órgão do Governo Angolano, do ministério da Cultura, que trata dos assuntos religiosos. O Dr. Vicente Pinto de Andrade, professor economista da Universidade Católica de Angola, em sua palestra no Workshop de Luanda (14 e 15 de junho de 2011) promovido pelo INAR (Instituto Nacional de Assuntos Religiosos), fez algumas afirmações interessantes no estudo da Prosperidade. Conforme Andrade: “Aqueles que vêem na globalização uma ideologia, em parte, têm razão, devido ao fato da ideologia neoliberal ter sido, durante os últimos anos, a ideologia hegemônica da globalização.” Após esta afirmação, o Dr. Andrade afirma que o neoliberalismo veio da filosofia protestante intitulada “ética do trabalho”. Este pensamento que foi formulado pelo pensador Max Weber, um protestante, e podemos ver já a “teologia numa linha de prosperidade”. O Protestantismo promoveu uma visão de prosperidade, e nos EUA, encontramos esta linha já formulada, e adaptada ao contexto fundamentalismo norte americano, criando uma cosmovisão dentro de uma prosperidade econômica e material que os americanos viviam. Continuando o Dr. Andrade também diz: “A moral do sucesso contagiou gerações de gestores e de políticos, que começaram a cultuar a prosperidade e o consumo, glorificaram as recompensas materiais e a sua fruição, desprezaram aqueles que foram considerados por eles os ‘vencidos da vida’, ‘os perdedores’, acentuando, assim, as ambições individuais, o enriquecimento rápido e fácil, a realização pessoal. A moral do sucesso repousa na vontade incontida de o ‘vencedores’ se distinguirem e de desdenharem a multidões, os pobres, os velhos, os desvalidos, os desprotegidos, legitimando, deste modo, a boa fortuna e fazendo dela o discurso oficial”.

Começo nossa reflexão considerando uma pergunta: Quem são os “vencidos”? “Os perdedores”? Será que de fato o motivo que os classificou assim é a capacidade individual, ou as condições atribuídas a eles, ou ainda a permissividade dada pelo sistema imperante no mundo? Neste caso a teologia da Prosperidade tem uma resposta para os “perdedores” ou os coloca num ambiente de penalização? Ou ainda os empurra a um ambiente de marginalização? Não digo que seja isto, mas pergunto se na prática tem sido isto, pois muitas vezes o discurso é emocionante, convincente e carinhoso, mas a prática é a demonstração do avesso.
O discurso dos que aderiram à teologia da Prosperidade, principalmente os neo pentecostais, demonstra uma busca de inclusão de todos no processo de prosperidade. Creio ser uma expectativa sincera a inclusão, e não a exclusão, pois se fosse a exclusão teríamos que considerar os “pregadores da prosperidade” como não Cristãos. Infelizmente muitos querem taxar estes pregadores de “charlatães” e “aproveitadores”, mas isto já é em si um preconceito e um julgamento baseado na hipocrisia dos que utilizam do sistema para se beneficiar, e “fecham os olhos” ao seu lado para os necessitados. O que quero dizer é que é fácil julgar estes pregadores, sem ter uma resposta, que eles dizem ter. Não posso acusar sem procurar compreender considerando o réu inocente, até que se prove ao contrário.  Mas se considerarmos que estes pregadores tem o pensamento de incluir a todos através da fé, precisamos pensar no impacto que esta teologia pode trazer para a sociedade angolana, e este é nosso dever como igreja angolana. Mesmo sendo estrangeiro em Angola, não sou estrangeiro na igreja angolana, pois não há estrangeiros dentro do corpo de Cristo. Somos um povo somente, a Igreja de Jesus Cristo. Não há estrangeiros dentro da Igreja, como disse o Apóstolo Paulo, “não há judeus ou gregos”, todos somos um em Cristo.

Continuando com o Dr. Andrade em seu discurso no Workshop em Luanda, ele demonstra uma ligação intima da ideologia da globalização com o pensamento da “moral do sucesso” como ele conceitua. Esta “moral do sucesso” tem uma ligação muito forte com a teologia da prosperidade, que se formou junta na sociedade norte americana. Talvez pudéssemos até afirmar que a “moral do sucesso” seria uma conseqüência do fundamentalismo norte americano. Esta ‘moral do sucesso’ promoveu na política o neoliberalismo, e na igreja evangélica produziu a teologia da prosperidade. Sabemos que sempre a Igreja, sendo formada de pessoas, e Igreja são pessoas, não uma instituição ou prédios, ela será influenciada pela filosofia política do país que a igreja está vivendo. A origem desta ‘moral do sucesso’ tem haver com a ordem política e econômica mundial depois da segunda guerra mundial. Com a ascensão do poderio americano, que se confirmou com o fim da guerra fria, e o desmantelamento da antiga URSS, o pensamento neoliberal conquistou as duas alas políticas mundiais. Tanto o capitalismo como o socialismo se adaptaram ao novo modelo mundial que busca ser o unificador criando uma ‘nova era’ como alguns chamam, e como alguns creem. Mesmo o pensamento da ala liberal do socialismo percebeu a necessidade de uma nova estratégia de unificação no contexto global reinante e em processo de dominação. A ‘moral do sucesso’ teve suas bases nos EUA, com o fundamentalismo que promoveu a idolatria do sucesso ou da prosperidade. O sucesso se confundiu com a prosperidade, e o materialismo se confundiu com o sucesso. Para muitos, ou a maioria hoje, o sucesso está ligado aos bens materiais, ao poder, e a individualização, ou melhor, o hedonismo egoísta, que prefere a si mesmo, que a distribuição de renda para a melhor qualidade de vida da sociedade. É fato que a renda mundial se concentra em um grupo ínfimo e quase não muito conhecido. A prosperidade que os ricos experimentam ainda não é quase nada do que os que controlam os movimentos de pensamentos dominantes e dominadores. Contudo a maioria da população humana hoje sonha com participar do grupo que se chama próspero. E este ideal globalizado atingiu a teologia e a igreja. A Igreja que vive um momento histórico pós moderno, criou uma teologia da prosperidade que na verdade, é fruto desta “moral de sucesso” difundida nos “discursos oficiais”, como diz o Dr. Andrade.

Os aderentes da Teologia da Prosperidade devem sempre considerar que o inclusivismo é o ponto fundamental para que esta teologia não se torne anti-cristã. Até que ponto que esta prosperidade inclui a todos, e busca a prosperidade para todos. Podemos e devemos discutir as teses bíblicas que fundamentam este dogma. A exclusão é promover o preconceito, o orgulho e condenar os excluídos a destruição e a falta de salvação. Paremos um pouco e repensemos através desta minha última afirmação que parece absurda, mas é uma conclusão dentro da lógica teológica apresentada nesta tese, ou seja, “falta de salvação” proveniente da “falta de prosperidade”. Não parece um pouco estranho que o material intervenha na salvação, mas alguns diriam que “sem pão”, “sem fé”, ou talvez seja na lógica da tese “sem pão, provando sua falta de fé”. A lógica absorve, mas não retira a verdade clara que diz ser a salvação proclamada a todos, conforme uma ordem de Jesus. “Pregai a toda Criatura”, neste caso todos estão incluídos para os benefícios da salvação de Cristo. Uma teologia nunca pode excluir, mas sempre incluir o perdido.

Concluo sem rejeitar a teologia da Prosperidade, mas sendo um constante questionador da biblicidade deste novo dogma, e digo isto, pois sei que não somos os detentores da revelação plena de Deus nestes últimos dias; e sempre lembrando que novas revelações sempre trouxeram impactos de reformulação de pensamentos; sim, concluo dizendo que creio convictamente que o fator de acréscimo desta teologia em Angola e em qualquer país do mundo é a manifestação do inclusivismo, ou melhor, é incluir todos nos benefícios provenientes da fé. O exclusivismo pode ser uma característica negativa, herética, e anti-cristã. O exclusivismo é limitar o beneficio para um grupo selecionado, exclusivo. Isto faz deste grupo exclusivo e exclusivista um grupo superior, como se Deus fizesse acepção de pessoas. Se tornando conforme os padrões sociológicos apresentados na Ciência da Religião, uma “seita”, e não uma religião. Relembro para o aprofundamento da análise apologética que o “padrão citado deste fenômeno religioso” que diz ser um grupo fechado, exotérico e com crenças perigosas, uma “seita”.

Não quero incluir na discussão a doutrina da eleição, quero apenas considerar que Deus dá o “sol para o justo e para o injusto”. O inclusivismo deve então para ser benéfico proporcionando as mesmas condições de acessibilidade dos ‘ganhos’ desta prosperidade divina. Como dar a todos a acessibilidade que a Bíblia diz que todos podem ter, ao receberem a salvação de Jesus, que nesta corrente evidencia a prosperidade? Seria a fé a forma de igualar todos os salvos? Estou considerando o pensamento da teologia da prosperidade que inclui no termo “salvo” a “prosperidade”. Então Jesus nos salva prosperando. As igrejas devem considerar que não podemos ser influenciados pelos modismos da pós modernidade, temos que estar convictos de nossa fé bíblica, que leva as ‘boas novas’ que neste aspecto, inclui a prosperidade no conceito da teologia da prosperidade, para todos os homens. Neste caso qualquer sociedade pode obter os benefícios da prosperidade, seguindo os princípios bíblicos, isto não significa que está à disposição de um grupo institucional da Igreja, e de novo considero Igreja como o Corpo de Cristo. Nenhum grupo é detentor dos benefícios de Deus, os benefícios foram dados a Igreja e a todos que querem seguir o padrão estabelecido por Deus. E mesmo a Igreja somente tem quando segue este padrão divino.

Porque “Deus amou o MUNDO (todos os homens, sem exceção), de tal maneira que DEU (deu a todos), seu Filho Unigênito (com todos os benefícios que o Filho traz para a humanidade) para que todos (sim todos, todos incluídos, sem exceção) que nele crêem tenham a vida eterna (aqui sim demonstra a individualidade, com a decisão de querer e crer, permitindo o livre arbítrio sem imposição, e isto não pode ser dado por governos, famílias ou igrejas, é pessoal)”. Aqueles que querem terão, os que não querem não terão. Mas aqueles que querem tem que crer para ter. Mas quem crê? E no que crê? 

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