segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A importância da Bíblia como a Palavra de Deus para a igreja e teologia

O texto bíblico apresentado chama a atenção sobre uma parte fundamental da revelação de Deus ao homem. A Palavra de Deus é uma “lâmpada” e “luz”. Quando interpretamos o termo “palavra” estamos reconhecendo dois aspectos bíblicos encontrados neste termo: o primeiro é a compreensão que Deus fala e esta comunicação é compreendida pelo homem; e o segundo aspecto é que no tempo do salmista, o conceito que o termo “palavra” significava também era as “palavras de Deus” reveladas por meio dos livros que eram reconhecidos como as “escrituras sagradas”. Mais tarde estes livros, que no tempo do salmista ainda estavam sendo escritos, foram reunidos naquilo que os judeus chamavam de “lei e profetas”. Após o tempo de Jesus, os apóstolos, e os discipulos dos apóstolos escreveram mais uma parte destas “palavras de Deus”, formando um compendio de livros que é reconhecido como um livro apenas, e chamado de Bíblia. A Bíblia então reune os escritos sagrados antes de Jesus e depois de Jesus, e Jesus é o que confirma a veracidade e autenticidade da Bíblia, porque sendo Ele, o Deus encarnado, tem a autoridade de confirmar. Jesus confirmou que a “lei e os profetas” que a Igreja chama de Velho Testamento são as “escrituras sagradas”, e autorizou a escrita de mais palavras inspiradas, naquilo que a Igreja chama de Novo Testamento. Com sua aparição e revelação no último livro da Bíblia, sendo o escritor um dos seus 12 apóstolos autorizados para levar suas palavras, Jesus confirma o final das escrituras sagradas, inclusive afirmando que ninguém poderia retirar nada do que foi escrito, nem mesmo acrescentar nada ao que foi escrito. O texto bíblico diz: (Apocalipse 22:18, 19) – “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro”. No verso 16 diz que “eu, Jesus”, então é Jesus terminando a Bíblia. Diante destes dois aspectos apresentados acima citados, a “palavra” do texto bíblico apresentado carrega em si o conceito de “palavra revelada” ao homem, de forma escrita. O salmista considerava que a palavra mencionada é para ele, e para os que leem uma “palavra inspirada” por Deus. Esta “palavra”, que considerando a ligação que Deus fez em sua sabedoria onisciente, era a lâmpada e a luz. Esta “palavra” tinha duas vertentes, sendo uma palavra pessoal e outra uma palavra universal, que utilizou a experiencia pessoal do salmista como forma de demonstrar uma verdade que é para toda humanidade em todos os tempos. A “palavra” deste salmos é com certeza a “palavra escrita”, além de ser a “palavra viva revelada”. Apesar de considerar a “palavra” como parte ou até integralmente a palavra escrita, isto não retira a revelação que a palavra escrita pode produzir individualmente em cada leitor. Aqui introduzimos a afirmação que a Bíblia era, ainda é, e será importante para a revelação de Deus ao homem, consequentemente é importante para a Igreja, que é o povo de Deus, e para a teologia que é o estudo de Deus. No caso da teologia, somente podemos considerar um estudo de Deus, partindo do pressuposto que Deus se revela a nós, pois não existe em nós a capacidade de conhecer e descobrir quem é Deus, sem Ele mesmo se revelar. Nossa incapacidade diante da infinitude do ser de Deus é um fato que nos coloca sem possibilidades de colher fatos e dados, sem um intervenção divina. Deus contudo em sua palavra escrita trouxe a possibilidade de investigação, incluindo a sua própria afirmação na Bíblia, que a criação é parte desta revelação. É por este motivo que podemos utilizar o exemplo deste salmista para chamar a atenção a importancia da “palavra de Deus” na vida prática de cada leitor. Este salmista apesar de estar consciente do duplo significado, ou seja, a palavra individual vivicante e a palavra escrita universal reveladora, ele não foi consciente da extensão de que estas suas palavras se tornariam, assim como provavelmente todos os escritores da Bíblia. Nós contudo como igreja, temos a revelação completa, por meio de Jesus, e de sua palavra terminada, e podemos considerar a afirmação do salmista como uma permanente verdade sobre a “palavra de Deus” escrita. A Bíblia sempre será a “luz” e a “lâmpada”, e por isto sempre será importante para os dias atuais, ou para atualidade da igreja, em qualquer lugar ou tempo que viver. Ainda reafirmando este conceito de importancia, colocamos alguns pressupostos que confirmam esta importancia. O primeiro pressuposto que é necessário considerar é que a Bíblia é a “palavra de Deus”. Este é o primeiro aspecto que precisa ser considerado, pois se a Bíblia não é a “palavra de Deus”, então ela deixa de ser importante para a Igreja e a Teologia. Se considerarmos que a Bíblia apenas contêm a “palavra de Deus”, poderiamos selecionar aquilo que nos convêm, e transformariamos a Bíblia num livro relativista e sem autoridade. Cada um poderia criar sua teologia, e usar a Bíblia como um ambiente de opiniões, e não de afirmações. Ela se tornaria apenas um auxílio, não o fundamento. O primeiro pressuposto para que a Bíblia seja importante para a Igreja e para a Teologia, é que a Bíblia é a Palavra de Deus. Sendo ela a palavra de Deus, ela foi, é e será, a palavra de Deus eterna. Sempre esta palavra será a palavra de Deus. Grudem diz que a Palavra de Deus em forma escrita é o “ponto de convergência” de todo estudo teológico . Esta afirmação demonstra a certeza que os teólogos tem de que sem a Bíblia, não haveria uma teologia que poderia estar unida e unindo o povo de Deus. O segundo pressuposto para demonstrar a importancia da Bíblia na Igreja, que são todos os “nascidos de novo” ou “cristãos” vivos na atualidade, e na teologia que é a ciência que os cristãos formaram e reutilizam para o estudo da revelação de Deus ao homem, é que a Bíblia é atual e é eficaz. A Bíblia em outro texto afirma: “a palavra de Deus é viva e eficaz” . Como a Bíblia que é a palavra revelada escrita de Deus é viva, e além disto é eficaz em produzir o que ela foi destinada a revelar, como diz em “minha palavra não volta vazia, mas...” ; então a palavra de Deus pode adquirir um sentido individual e contextualizada para cada leitor. A Bíblia não está desatualizada e ineficaz, ela se adapta ou se contextualiza, para cada tempo, época, história, povo e lingua. Grudem afirma que apesar de podermos ouvir a Deus, falando conosco pessoalmente, a Bíblia é a forma de termos a “certeza da total exatidão de nossa compreensão, memória e subsequente relato delas.” A Bíblia confirma qualquer tipo de compreensão do que Deus tenha falado a nós. Este aspecto inclui uma afirmação de Erickson que diz que a doutrina é uma ligação entre a verdade e a experiência . A experiência é uma das característica daquilo que é chamado de pós modernidade, com uma enfase para a confirmação da verdade, por meio dos fatos experimentados. Sendo a Bíblia viva e eficaz, ela torna-se parte das experiências vividas dos leitores, muitas vezes é ela que cria as experiências. O testemunho que faz parte da liturgia dos cultos, fortalece a importancia da Bíblia, quando os cristãos demonstram como a Bíblia influência suas experiências. Erickson ainda afirma: “A Bíblia é a constituição da fé cristã: ela especifica em que se deve crer e o que se deve fazer” . Com esta afirmação, Erickson demonstra como a Bíblia é prática, porque é um manual de conduta. A capacidade da Bíblia estar viva e eficaz, é uma realidade não somente natural, mas principalmente espiritual, pois Deus está falando por meio das “escrituras sagradas” em todo tempo que alguém de coração busca a voz do Senhor. É um compromisso divino com o homem, pois é sua própria forma de revelar-se, utilizando um texto escrito, já planejado e organizado para apresentar sua Verdade, em todas as facetas que a compreensão humana consegue entender. É importante lembrar, que a capacidade humana de compreensão é limitada, diante da infinidade da mente do Senhor, portanto Deus tem que limitar sua revelação ao nível da compreensão humana, sendo assim antrópica. Parte desta compreensão humana é simbológica, mas isto não uma dificuldade para a compreensão é apenas uma ampliação do ambiente de compreensão, devido a nossa limitação em relacionar o mundo espiritual com nosso mundo terreno e visivel. Deus então mostra algo que não conhecido, com o que é conhecido por nós. Ainda dentro deste primeiro aspecto, ou seja, que a “palavra de Deus” ou a “Bíblia” é “viva e eficaz”, e que afirmamos como fundamental para compreensão da importancia da Bíblia na atualidade, seja para a Igreja, ou seja para a Teologia, também devemos lembrar que existe uma diferença no original grego para o termo “palavra”. O Novo Testamento que de uma forma geral apresenta uma explicação de tudo que é revelado no Velho Testamento, pois as duas partes se complementam e se explicam, apresenta duas palavras para o termo “palavra”, na lingua grega, que foi a lingua original de quase todo Novo Testamento. Estas palavras são “rhema” e “logos”. Apesar de serem palavras gregas diferentes, são traduzidas normalmente por “palavra” e no caso do tema em discussão, podem adquirir o sentido da “palavra escrita”, que chamamos de Bíblia. Estes dois termos são então importantes na compreensão da importancia da Bíblia, pois reforçam as duas características da “palavra revelada de Deus”. O Rhema é uma faceta do termo “palavra” que significa: “palavra vivificante” ou uma “palavra que é viva”. O segundo termo “logos” já tem um significado diferente, pois significa: “palavra que dá conhecimento” ou “o conhecimento”. Estas duas palavras são interessantes na compreensão da Bíblia como “palavra”, pois cria duas facetas: a faceta individual e a faceta coletiva. A Bíblia como Rhema é uma revelação individual, permanentemente atual e transformadora, pois é Deus falando no momento para o leitor. A Bíblia como Logos é uma revelação coletiva, pois é imutável e sem acepção de pessoas, pois é uma revelação que não muda, sendo a verdade absoluta. No conceito de Logos, entramos muito na idéia da compreensão da ética estabelecida por Deus, pois sendo imutável e prescritivo, a ética se torna normativa, universal e deontologica. Mas a faceta do Rhema que torna a Bíblia uma “palavra viva” que se contextualiza e aplicável para todo tipo de realidade histórica, considerando as tecnologias e culturas, cria a possibilidade da discussão dos aspectos individuais. Os aspectos individuais podem ser discutidos como parte da manifestação real e permanente de Deus na vida do ser humano. Deus então não escreveu uma “carta” e foi embora, Ele continua presente, explicando e ampliando a compreensão de suas palavras para os leitores. Nesta compreensão de presença divina, a interpretação das “palavras sagradas” pode adquirir um aparente relativismo, contudo os princípios fundamentais de seu caráter impedem a disvirtuação da compreensão. Considerando que o “amor” é a base do relacionamento entre Deus e os homens, a interpretação, deve sempre considerar o amor, como ponto de partida para o entendimento de conceitos, e do chamado “logos”. Também é importante observar que Deus chamou seu próprio filho de “logos”, no evangelho de João. Em João capítulo 1, verso 1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”; mais a frente no mesmo texto diz: (João 1:14) – “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. Nos dois versículos a palavra Verbo é no original “Logos”, ou “palavra”. Os dois textos demonstram a vinda do Senhor Jesus Cristo, como o “logos” de Deus. Percebemos então que o “logos” também é vivo, mas é imutável, pois a revelação plena de quem é Deus. Jesus revelou em sua integralidade o caráter de Deus. Em outro texto vemos que Jesus “se esvaziou” da divindade, sendo um homem em plenitude, sem deixar de ser Deus. Mas sua revelação na terra, não demonstrou seus atributos de grandeza, mas demonstrou a “glória”, “graça” e “verdade” ou seus atributos de bondade. Como homens não podemos manifestar os atributos de grandeza de Deus, pois é parte de ser divino e nisto somos apenas semelhantes a Ele, mas podemos manifestar seus atributos de bondade, pois somos a sua imagem. Então considerando estes dois aspectos da revelação da “palavra de Deus” como vivificante e exclarecedora, ou Rhema e Logos, podemos reafirmar que a Bíblia continua sendo a revelação atual e eficaz para a Igreja e consequentemente para a teologia, que estuda a Deus na Bíblia. Na verdade, não existiria a teologia sem a Bíblia, pois a Bíblia que fundamenta todo conhecimento de Deus. Mesmo a teologia natural somente existe porque a Bíblia permite sua existencia, afirmando que “os céus proclamam a sua glória, e o firmamento as obras de suas mãos” e em Romanos 1:19, 20 diz: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis”. A teologia nunca pode pensar em existir sem a Bíblia, pois estaria rejeitando a autoridade de Jesus que fundamentou seus ensinamentos na Bíblia. Sendo Jesus, Deus na terra, não há como modificar o que Ele demonstrou como o verdadeiro e a forma correta de viver, ou de compreender a verdade. Um terceiro pressuposto que Erickson destaca é a que as crenças doutrinárias são essenciais no relacionamento entre o cristão e Deus . Este pressuposto é interessante observar, porque quando a Igreja e a Teologia buscam doutrinas que não estão fundamentadas na Bíblia, acabam afastando os cristãos e até mesmo os não cristãos da revelação verdadeira de Deus. A história demonstra isto através da formação de heresias e seitas que são uma realidade que fez a Igreja iniciar uma teologia sistemática em forma de credos e confissões. O estudo da Bíblia sempre foi a delimitação do que é certo e errado, ou do que é tolerável no relacionamento da Igreja com os membros que formam a Igreja, ou do relacionamento entre igrejas. Sem a Bíblia, a Igreja criaria uma teologia diferente para cada conflito ou para cada interesse que o grupo que forma a igreja desejasse. A Bíblia é um fundamento, que não permite uma modificação na forma como Deus demonstra que Ele é, e que Ele deseja que sejamos.