Um dos temas de maior
interesse de meus estudos têm sido o fundamentalismo e a graça. Com certeza por
causa da história de minha vida, que enfrentou uma estrutura fundamentalista
extremista. Mas não somente enfrentou como viveu dentro desta estrutura. Este texto é parte de minha dissertação de mestrado que está neste blog. Apesar
de muitas coisas positivas que o fundamentalismo, especialmente norte americano
trouxe, nós como igreja temos perigos, e quero destacar um dos piores, pois ele
gera a quebra da comunhão de amigos, famílias e igrejas. É a intolerância,
provida da ignorância da graça. Vejamos então um pouco sobre este tema, sem
citar exemplos, como minha dissertação apresenta.
O fundamentalismo
extremista tendo como fato gerador o tempo e tem como conseqüência a formação
de um ambiente para um tipo de ‘escravidão na mente’. Esta ‘escravidão’ pode
ser chamada de a ‘escravidão da ignorância e da intolerância’. A ignorância no sentido de “ignorar outro
conhecimento que não aquele permitido pelo grupo”, e intolerância no sentido de
“não permitir nenhum tipo de tolerância para outro tipo de modo de vida que não
seja o do grupo”. Quanto mais tempo fechado num sistema fundamentalista
extremistas, mais forte o perigo deste tipo de ‘escravidão’. A intolerância é o
contrário da tolerância, e a declaração de princípios sobre a tolerância,
decretada pela UNESCO tem uma boa definição sobre tolerância.
A tolerância não é concessão,
condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa
fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das
liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser
invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve
ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado. Declaração de
Princípios sobre a Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Unesco em
Paris, em 1995. Disponível no site:
http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/herkenhoff/livro1/filos1/tolerancia.html
.
Acessado em 28/10/2010.
Considerando o direito
universal dos seres humanos o livre arbítrio, e considerando que a tolerância
não significa “concessão, condescendência e indulgencia” com o mundo, ou com o
pecado do mundo, o fundamentalismo pode manter sua luta pelos fundamentos,
sendo tolerantes.
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A ênfase na letra da
lei é um perigo que Jesus enfrentava com os fariseus. Os fariseus que eram
os separados, conforme a própria etimologia da palavra formou uma casta
religiosa completamente controladora e elitizada, detentora da pureza religiosa
e dos fundamentos reais do judaísmo. O termo santo é o mesmo que
separado, e por isto para os fariseus, a santidade estava ligada a prática
fundamentalista ou legalista das leis mosaicas, que os levaram a ser uma classe
separada. É importante observar que o santo é o separado para Deus no mundo,
e não o separado do mundo para Deus. Esta diferença é fundamental, pois
Jesus disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo
17:15). A igreja então é separada para
Deus no mundo, sendo livres do mal, mas vivendo com as pessoas do mundo, e
respeitando estas pessoas. O desafio de participar do “Missio Dei” (Termo
Teológico usado especialmente na área da missiologia para definir a “Missão de
Deus”, que é buscar o perdido) é na verdade a aprendizagem deste
princípio que muitas vezes levou à igreja a imposição pela força, e até pela
violência da fé cristã, esquecendo da liberdade trazida pelo evangelho,
impedindo o livre arbítrio. Liberdade esta que cria o ambiente de escolha
pessoal, sem imposição e sem terrorismo psicológico.
O mundo pós-moderno
vive num momento que a liberdade está sendo discutida, e provavelmente os
lideres do ‘mundo tenebroso’ querem uma nova forma de liberdade, ou seja, a
liberdade vigiada. Neste contexto de controle mundial para formação de uma nova
era, ou uma aldeia global, infelizmente o fundamentalismo pode auxiliar aos
estrategistas satanizados. Este perigo pode ser observado, e incentivado
por muitos que não são da Igreja, com o objetivo de destruir a própria igreja.
A liberdade da graça
redentora do Senhor Jesus Cristo pode ser reformulada num contexto
fundamentalista, que recria o sentido de liberdade, num ambiente completamente
escravagista. Entretanto o ser humano somente permite esta escravização por meio
de um processo de conquista, que leva tempo. A igreja da mesma forma não se
submete a escravidão fundamentalista sem um período de conquista e de
convencimento.
O isolamento em si já é
a criação de um ambiente de meditação. No meio deste ambiente é muito fácil por
meio de repetição de conceitos, promoverem uma ‘lavagem cerebral’. O termo
‘lavagem cerebral’ tem sido muito usado para determinar o tipo de ensinamento
de seitas, mas é um termo ‘emprestado’ da psicologia. Na psicologia o termo
‘lavagem cerebral’ pode ter alguns significados ou explicações, mas o perigo
aqui enfatizado define a ‘lavagem cerebral’ como o comportamento produzido pela
‘repetição’ em um período de tempo. Para alguns demora mais tempo para que
alguns comportamentos e crenças sejam modificados, para outros o tempo é bem
reduzido. São vários os fatores que podem acelerar esta mudança de
comportamento e crenças. Pavlov Ivan Petrovich que foi um dos fundadores do
behaviorismo através de experiências com animais chegou a conclusões sobre as
relações do condicionamento e comportamento.
Seu experimento clássico foi o emparelhamento
de uma campainha à alimentação de cães com bolos de carne. Cada vez que os cães
eram alimentados, junto à entrega do alimento soava uma campainha. A isto se
chama de emparelhamento de estímulos [...] o emparelhamento da campainha
(estímulo condicionado) ao alimento (estímulo incondicionado) fez com que os
cães passassem a salivar (resposta incondicionada) quando a campainha era
tocada... A este procedimento foi dado o nome de condicionamento clássico ou
respondente. (MIGLIOLI, A. M., et al. Administração – Conhecimento Humano e
Técnológico Aplicado à administração. Ed. COC, p.98.)
Este tipo de
‘condicionamento clássico ou respondente’ pode-se considerar de uma forma de
‘lavagem cerebral’. O isolamento auxiliado pelo tempo promove um ambiente ideal
para um tipo de ênfase apenas, e a total negação de outras opiniões, ou visões,
isto produz uma escravização da ignorância e intolerância.
Outro aspecto é a demonização
da teologia é uma característica que pode ser encontrado na igreja pós-moderna
em alguns pastores como diz num site de teologia sistemática. “Muitos estudiosos da Bíblia nos dias de hoje estão
menosprezando pessoalmente a Teologia Sistemática afirmando que por estarmos em
uma época pós-moderna, as pessoas, os crentes de hoje, falando bem abertamente,
não estão a fim de debruçar-se sobre este tipo de estudo. Alguns outros alegam
que a Teologia Sistemática põe uma mordaça em Deus e Ele não teria mais liberdade
para falar conosco por causa das definições teológicas. Quanta asneira! É
indubitável a preguiça mental em muitos de nós”. (Retirado
do site Observatório Teológico. Texto intitulado “Boa
e velha teologia sistemática”. http://religiao.centralblogs.com.br/post.php?href=a+boa+e+velha+teologia+sistematica&KEYWORD=16426&POST=2882460.
Acessado em 27/07/2010.)
Esta “preguiça”
pós-moderna tem seu respaldo. O pragmatismo que “ensina que
conceitos, idéias e pensamentos só têm valor quando seguidos de conseqüências
práticas. A respeito da verdade, o pragmatismo diz que somente as idéias que
produzem conseqüências; ou seja, se funcionam, é porque são verdadeiras; em
outras palavras, aquilo que funciona tem, por de trás, um princípio
verdadeiro.” (GALVÃO, Nelson.
Texto retirado do site Ministério CACP: http://www.cacp.org.br
- http://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=930&menu=7&submenu=4.
Acessado em 03/10/2010)
Os
extremistas fundamentalistas demonstram um apego ao passado dos usos e costumes
da sociedade norte americana considerando que eram mais ‘puros’, mas os
conceitos pós-modernos já influenciam ou fortalecem a demonização do
conhecimento.
“Pastores há que alegam que suas
igrejas “do século 21” não estudarão a Bíblia desta maneira porque querem ter
mesmo são experiências com Deus (alguns dizem que o que importa mesmo é que o
crente tenha “vida em Jesus”). O pragmatismo é claro nestas comunidades, porque
tudo o que querem é “experimentar Deus” sem estudarem devidamente sua
Revelação”. (Retirado do site Observatório Teológico. Texto intitulado “Boa e velha teologia
sistemática”.
http://religiao.centralblogs.com.br/post.php?href=a+boa+e+velha+teologia+sistematica&KEYWORD=16426&POST=2882460
. Acessado em 27/07/2010.)
O endeusamento do líder
é o outra faceta do fundamentalismo extremista que começa a ter uma autoridade
que teoriza ou dogmatiza as doutrinas, e as outras opiniões teológicas são demonizadas.
Julio Zabatiero diz sobre um posicionamento muito equilibrado que os lideres
devem ter com a teologia.
“Invista parte
significativa de seu tempo e do tempo de sua liderança no estudo sólido da
teologia. Não de um teologismo vazio. Não de uma teolatria. Mas de uma teologia
prática, relevante, fiel à Escritura e desafiadora. Não seja apenas um seguidor
de modelos. Seja um criador, uma criadora de propostas atraentes e
bem-sucedidas. Faça teologia! ...Não restrita às repetições de fórmulas e
chavões confessionais. Teologia na prática!” In BARRO, Jorge H. Uma Igreja Sem
Propósitos, 2004, p. 211,212.
A intolerância aliada
ao medo torna-se o maior aliado dos que querem controlar pessoas. A
intolerância é uma ferramenta dos medrosos, pois aqueles que amam, não têm medo
de tolerar, toleram até aquilo que intolerável, para amar o intolerante e o
intolerável. No meio da tolerância, encontramos amor, pois quando toleramos:
“tudo sofremos, tudo cremos, tudo esperamos” para sermos tolerantes.
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