segunda-feira, 8 de abril de 2013

O PERIGO DA ÊNFASE FUNDAMENTALISTA GERADO PELO TEMPO – A ESCRAVIDÃO DA IGNORÂNCIA E INTOLERÂNCIA


Um dos temas de maior interesse de meus estudos têm sido o fundamentalismo e a graça. Com certeza por causa da história de minha vida, que enfrentou uma estrutura fundamentalista extremista. Mas não somente enfrentou como viveu dentro desta estrutura. Este texto é parte de minha dissertação de mestrado que está neste blog. Apesar de muitas coisas positivas que o fundamentalismo, especialmente norte americano trouxe, nós como igreja temos perigos, e quero destacar um dos piores, pois ele gera a quebra da comunhão de amigos, famílias e igrejas. É a intolerância, provida da ignorância da graça. Vejamos então um pouco sobre este tema, sem citar exemplos, como minha dissertação apresenta.
O fundamentalismo extremista tendo como fato gerador o tempo e tem como conseqüência a formação de um ambiente para um tipo de ‘escravidão na mente’. Esta ‘escravidão’ pode ser chamada de a ‘escravidão da ignorância e da intolerância’.  A ignorância no sentido de “ignorar outro conhecimento que não aquele permitido pelo grupo”, e intolerância no sentido de “não permitir nenhum tipo de tolerância para outro tipo de modo de vida que não seja o do grupo”. Quanto mais tempo fechado num sistema fundamentalista extremistas, mais forte o perigo deste tipo de ‘escravidão’. A intolerância é o contrário da tolerância, e a declaração de princípios sobre a tolerância, decretada pela UNESCO tem uma boa definição sobre tolerância.
A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado. Declaração de Princípios sobre a Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Unesco em Paris, em 1995. Disponível no site:
Considerando o direito universal dos seres humanos o livre arbítrio, e considerando que a tolerância não significa “concessão, condescendência e indulgencia” com o mundo, ou com o pecado do mundo, o fundamentalismo pode manter sua luta pelos fundamentos, sendo tolerantes.

 
O fundamentalismo promove uma ênfase constante em tópicos fundamentais, mas muitas vezes se afasta da práxis de uma vida cristã contextualizada a realidade da sociedade que o grupo fundamentalista vive. A constante mutação de uma sociedade pós-moderna, influenciada pela constante e crescente “torrente de informações”, impede que os fundamentalistas criem normas novas para cada inovação. A chegada de um novo costume ou uso gera uma dificuldade na compreensão, adaptação e convivência para os fundamentalistas. Esta dificuldade acaba fixando muitos fundamentalistas no passado, e demonizando tudo que é novo. Normalmente é mais fácil proibir o novo ou o ainda não estudado, do que procurar viver pelos princípios cristãos do amor e da fraternidade. Foi esta dificuldade que promoveu a demonização da Televisão por alguns pentecostais, que não conseguiam desenvolver um espírito de domínio próprio, e atualmente tem sido designada para a internet uma nova demonização, pois da mesma forma muitos não conseguem conviver com a atração deste novo “uso” que forma “costumes” novos. Para alguns sempre será mais fácil fugir e rejeitar do que enfrentar.
A ênfase na letra da lei é um perigo que Jesus enfrentava com os fariseus. Os fariseus que eram os separados, conforme a própria etimologia da palavra formou uma casta religiosa completamente controladora e elitizada, detentora da pureza religiosa e dos fundamentos reais do judaísmo. O termo santo é o mesmo que separado, e por isto para os fariseus, a santidade estava ligada a prática fundamentalista ou legalista das leis mosaicas, que os levaram a ser uma classe separada. É importante observar que o santo é o separado para Deus no mundo, e não o separado do mundo para Deus. Esta diferença é fundamental, pois Jesus disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17:15).  A igreja então é separada para Deus no mundo, sendo livres do mal, mas vivendo com as pessoas do mundo, e respeitando estas pessoas. O desafio de participar do “Missio Dei” (Termo Teológico usado especialmente na área da missiologia para definir a “Missão de Deus”, que é buscar o perdido) é na verdade a aprendizagem deste princípio que muitas vezes levou à igreja a imposição pela força, e até pela violência da fé cristã, esquecendo da liberdade trazida pelo evangelho, impedindo o livre arbítrio. Liberdade esta que cria o ambiente de escolha pessoal, sem imposição e sem terrorismo psicológico.
O mundo pós-moderno vive num momento que a liberdade está sendo discutida, e provavelmente os lideres do ‘mundo tenebroso’ querem uma nova forma de liberdade, ou seja, a liberdade vigiada. Neste contexto de controle mundial para formação de uma nova era, ou uma aldeia global, infelizmente o fundamentalismo pode auxiliar aos estrategistas satanizados. Este perigo pode ser observado, e incentivado por muitos que não são da Igreja, com o objetivo de destruir a própria igreja.
A liberdade da graça redentora do Senhor Jesus Cristo pode ser reformulada num contexto fundamentalista, que recria o sentido de liberdade, num ambiente completamente escravagista. Entretanto o ser humano somente permite esta escravização por meio de um processo de conquista, que leva tempo. A igreja da mesma forma não se submete a escravidão fundamentalista sem um período de conquista e de convencimento.
O isolamento em si já é a criação de um ambiente de meditação. No meio deste ambiente é muito fácil por meio de repetição de conceitos, promoverem uma ‘lavagem cerebral’. O termo ‘lavagem cerebral’ tem sido muito usado para determinar o tipo de ensinamento de seitas, mas é um termo ‘emprestado’ da psicologia. Na psicologia o termo ‘lavagem cerebral’ pode ter alguns significados ou explicações, mas o perigo aqui enfatizado define a ‘lavagem cerebral’ como o comportamento produzido pela ‘repetição’ em um período de tempo. Para alguns demora mais tempo para que alguns comportamentos e crenças sejam modificados, para outros o tempo é bem reduzido. São vários os fatores que podem acelerar esta mudança de comportamento e crenças. Pavlov Ivan Petrovich que foi um dos fundadores do behaviorismo através de experiências com animais chegou a conclusões sobre as relações do condicionamento e comportamento.
 Seu experimento clássico foi o emparelhamento de uma campainha à alimentação de cães com bolos de carne. Cada vez que os cães eram alimentados, junto à entrega do alimento soava uma campainha. A isto se chama de emparelhamento de estímulos [...] o emparelhamento da campainha (estímulo condicionado) ao alimento (estímulo incondicionado) fez com que os cães passassem a salivar (resposta incondicionada) quando a campainha era tocada... A este procedimento foi dado o nome de condicionamento clássico ou respondente. (MIGLIOLI, A. M., et al. Administração – Conhecimento Humano e Técnológico Aplicado à administração. Ed. COC, p.98.)
Este tipo de ‘condicionamento clássico ou respondente’ pode-se considerar de uma forma de ‘lavagem cerebral’. O isolamento auxiliado pelo tempo promove um ambiente ideal para um tipo de ênfase apenas, e a total negação de outras opiniões, ou visões, isto produz uma escravização da ignorância e intolerância.
Outro aspecto é a demonização da teologia é uma característica que pode ser encontrado na igreja pós-moderna em alguns pastores como diz num site de teologia sistemática. “Muitos estudiosos da Bíblia nos dias de hoje estão menosprezando pessoalmente a Teologia Sistemática afirmando que por estarmos em uma época pós-moderna, as pessoas, os crentes de hoje, falando bem abertamente, não estão a fim de debruçar-se sobre este tipo de estudo. Alguns outros alegam que a Teologia Sistemática põe uma mordaça em Deus e Ele não teria mais liberdade para falar conosco por causa das definições teológicas. Quanta asneira! É indubitável a preguiça mental em muitos de nós”. (Retirado do site Observatório Teológico. Texto intitulado “Boa e velha teologia sistemática”. http://religiao.centralblogs.com.br/post.php?href=a+boa+e+velha+teologia+sistematica&KEYWORD=16426&POST=2882460. Acessado em 27/07/2010.)
Esta “preguiça” pós-moderna tem seu respaldo. O pragmatismo que “ensina que conceitos, idéias e pensamentos só têm valor quando seguidos de conseqüências práticas. A respeito da verdade, o pragmatismo diz que somente as idéias que produzem conseqüências; ou seja, se funcionam, é porque são verdadeiras; em outras palavras, aquilo que funciona tem, por de trás, um princípio verdadeiro.” (GALVÃO, Nelson.  Texto retirado do site Ministério CACP: http://www.cacp.org.br - http://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=930&menu=7&submenu=4. Acessado em 03/10/2010)
Os extremistas fundamentalistas demonstram um apego ao passado dos usos e costumes da sociedade norte americana considerando que eram mais ‘puros’, mas os conceitos pós-modernos já influenciam ou fortalecem a demonização do conhecimento.
 “Pastores há que alegam que suas igrejas “do século 21” não estudarão a Bíblia desta maneira porque querem ter mesmo são experiências com Deus (alguns dizem que o que importa mesmo é que o crente tenha “vida em Jesus”). O pragmatismo é claro nestas comunidades, porque tudo o que querem é “experimentar Deus” sem estudarem devidamente sua Revelação”. (Retirado do site Observatório Teológico. Texto intitulado “Boa e velha teologia sistemática”.
O endeusamento do líder é o outra faceta do fundamentalismo extremista que começa a ter uma autoridade que teoriza ou dogmatiza as doutrinas, e as outras opiniões teológicas são demonizadas. Julio Zabatiero diz sobre um posicionamento muito equilibrado que os lideres devem ter com a teologia.
“Invista parte significativa de seu tempo e do tempo de sua liderança no estudo sólido da teologia. Não de um teologismo vazio. Não de uma teolatria. Mas de uma teologia prática, relevante, fiel à Escritura e desafiadora. Não seja apenas um seguidor de modelos. Seja um criador, uma criadora de propostas atraentes e bem-sucedidas. Faça teologia! ...Não restrita às repetições de fórmulas e chavões confessionais. Teologia na prática!” In BARRO, Jorge H. Uma Igreja Sem Propósitos, 2004,  p. 211,212.
A intolerância aliada ao medo torna-se o maior aliado dos que querem controlar pessoas. A intolerância é uma ferramenta dos medrosos, pois aqueles que amam, não têm medo de tolerar, toleram até aquilo que intolerável, para amar o intolerante e o intolerável. No meio da tolerância, encontramos amor, pois quando toleramos: “tudo sofremos, tudo cremos, tudo esperamos” para sermos tolerantes. 

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