Quero começar estes textos de reflexão considerando a história da Psicologia, que é uma das ciências humanas. Na história da psicologia podemos ver a história do relacionamento entre a Religião e a Ciência.
A
Psicologia divide sua história em quatro etapas:
- Espiritual – Religioso
- Filosófico – Religioso
- Cientifico - Ateísta
- Cientifico – Fenomenologista
- Espiritual
– Religioso:
Este
primeiro período, o maior da humanidade, é o que compreende da criação da
humanidade até a civilização grega. Em termos de anos temos de pelo menos 4 mil
a.C. até 500 a 300 a.C., ou 3.500 anos da humanidade.
Este
período se caracteriza pela ligação da psicologia ao serviço religioso. Os
sacerdotes prestavam serviços de aconselhamento, de tratamentos psicológicos e
até de tratamento médico, que incluía doenças e distúrbios mentais. Alguns dos
tratamentos psicológicos eram exorcismos ou feitiçaria, que envolvia o inicio
da Farmacheia ou Farmácia (manipulação de medicamentos).
Neste
período o homem sempre ligou os problemas psicológicos sejam eles físicos ou da
alma como problemas espirituais. As doenças mentais e os distúrbios mentais
teriam origens ou causas espirituais. Por isto os tratamentos estavam ligados a
rituais, poções mágicas, orações, e atos religiosos.
- Filosófico
– Religioso:
O
Segundo período foi da civilização grega até o tempo do Renascimento. Um
período de 2.300 anos foi o segundo maior período da humanidade. Com a chegada do
pensamento filosófico, a religião foi apoiada pela filosofia que era também
parte da Religião. Mas os novos conceitos traziam a idéia da observação dos
fenômenos naturais como parte da compreensão do universo, e não somente a fé
religiosa.
O
Homem que já tinha muitas técnicas de medicina, especialmente os egípcios, babilônios,
medos-persas, chineses, e outros, começaram a desvincular a saúde do corpo,
incluindo aqui a mente ou a alma.
Este
período teve seu auge no inicio com a civilização grega, e depois se estagnou e
perdeu seu brilho, na idade média. A Idade Média trouxe a filosofia para os
conceitos religiosos e também determinava as novas ciências da matemática e da
física que cresciam. Outras ciências como astronomia, medicina, engenharia de
construções, eram aperfeiçoadas, mas a Religião era a que julgava o “certo” e “errado”,
por isto a ciência estava mais ligada ao “espiritual” que ao “natural”. Todos
os conceitos da Sociologia, Filosofia, Psicologia, Antropologia, História,
Economia, Direito, Política, ou toda ciência social era ligada a Teologia. As
ciências sociais eram a Teologia, e as ciências naturais eram submetidas à
Teologia, o que por motivo de ignorância teológica impediu o crescimento do
conhecimento humano, sendo até chamado a “Idade da Trevas”.
É
bom lembrar que grandes cientistas como Galileu, Leonardo da Vinci, e outros
viveram este período, mas isto não venceu a ignorância e intolerância religiosa
que imperava, e impediu o florescimento da ciência.
- Cientifico
- Ateísta:
O
terceiro período que pode ser chamado de “moderno” ou “experimental” nasceu de em
um período de crise religiosa, quando a Reforma Protestante quebrou o domínio do
catolicismo que era intolerante e ignorante quanto a renovação do conhecimento
humano, promovendo a “caça as bruxas” ou a “inquisição” que era uma luta contra
os que “discordavam” da igreja católica. A Reforma promoveu florescer de uma
volta à liberdade, a busca da prosperidade, e o pensamento livre, incluindo os pensamentos
gregos. Este momento religioso permitiu que a Política fosse liberta para
permitir o Renascimento que foi seguido pelo Iluminismo.
Este
momento de crise, no entanto, também criou uma rejeição a Religião, que era
vista como “inimiga da ciência”, e formou uma ideia de uma ciência “laica”, ou
em alguns casos “atéia”. O Ateísmo tornou-se como parte do novo conceito
cientifico, que desconsiderava o metafísico ou o espiritual.
A
Religião foi retirada dos meios científicos, e até os dias de hoje ainda se
vêem esta influencia em muitos cientistas. A Religião foi banida, e considerada
até como o “ópio da humanidade”, “um comportamento primitivo”, “a repressora”, ou
apenas a “ilusão de um complexo sexual”.
Este
período foi do Renascentismo até o Período Contemporâneo com o fim das escolas
e os “ismos”, por volta de 1940, no meio das grandes guerras mundiais. A
Segunda Guerra Mundial foi já o inicio de um novo período pós moderno.
Neste
período “moderno” anti religião, temos à formação das principais teses da
Psicologia Moderna, com seus grandes teóricos, como Sigmund Freud, Gustav
Fechner, Wilhelm Wundt, Wilham James, J.B. Watson. Foi quando nasceu a
psicanálise e a psiquiatria e a psicologia se desvinculou do exorcismo.
A
Psicologia formou as “escolas” e os “ismos” seguindo um método experimental.
Fundamentalmente os problemas que formaram as divisões:
I.
Mente versus Comportamento
(Estruturalismo x Comportamentalismo)
II.
Campo versus Atomismo (Gestalt x
Elementarismo)
III.
Nativismo versos Empirismo
A
linha da Gestalt e da psicanálise se tornou a escola mais forte.
- Cientifico
– Fenomenologista:
Este
é o quarto período que podemos chamar de “Contemporâneo” e talvez será chamado
de “pós moderno”, nasceu após a primeira guerra mundial, no tempo do
fortalecimento da nação americana como grande poder político militar.
Posteriormente com os experimentos da Segunda Guerra Mundial, que promoveram
verdadeiros laboratórios humanos, e a fuga dos cientistas alemães e judeus para
os EUA, a ciência floresceu nos EUA e tem influenciado até os dias de hoje o
novo pensamento, mas próximo da Religião, mas num conceito mais fenomenológico
que religioso. A metafísica já tem sido abordada como fenômenos sobrenaturais,
criando até novas ciências como a parapsicologia na psicologia e outras “ciências”
que buscam espaço no meio cientifico.
A
Religião ganhou um novo espaço com a Ciência da Religião, criando o estudo do “Fenômeno
Religioso”. A Religião tem sido vista como fato, e não ilusão, pois é
constatada e observada, até mesmo experimentada. A teologia ganhou espaço como
parte do “fenômeno religioso”, contudo a ciência ainda não aceita Deus como
fato, apenas como mito ou símbolo. O estudo do “fenômeno religioso”, abriu nos
campos da Sociologia, Antropologia, Psicologia, Política, Economia, e
Administração estudos específicos da manifestação do fenômeno. Por isto temos
agora a “Sociologia da Religião” e a “Psicologia da Religião”.
A
Psicologia tem mudado sua perspectiva sobre a Religião que era vista como uma
“inimiga” da ciência ou do conhecimento, e nestes dias contemporâneos a ciência
incluindo a psicologia tem aceito a Religião como uma “aliada”. O próprio
nascimento da “Psicologia da Religião” e a “Capelania” tem sido a prova da
aproximação da Psicologia e a Religião.
Este
período a Psicologia ou a ciência assume a liderança e autoridade, contudo não
reduz a Religião ao desprezo, inutilidade, ou dispensabilidade.
A ciência verdadeira que é o estudo da natureza nunca afastará o homem de Deus, pois Deus é o Criador, e a natureza "proclama a glória de Deus". Quanto mais estudarmos a natureza, mas teremos revelação de Deus. O
marxismo tese sociológica que tinha colocado a Religião na classe de “crime” ou
“perigo”, agora sucumbe diante da realidade da influencia inegável da Religião.
O Evolucionismo perdeu sua força cientifica, apesar de manter sua força
cultural, pois não provou nenhum elo perdido, e a Religião permanece firme até
mesmo no caso dos que não são cristãos aderindo e reinterpretando as teses
evolucionistas, ou seja, a Religião de novo engolindo os novos conceitos. O
freudianismo que junto com o marxismo e o evolucionismo foram às teses mais
agressivas contra a Religião, no campo psicológico sucumbe diante da realidade
que o homem não reage como um animal, pois tem características diferentes. O homem
pode reagir como um animal, mas isto não significa que é sua natureza, mas apenas
que é possível o que torna a tese de Freud uma proposição inconsistente.
Vivemos
um período de distanciamento da importância da ciência, e a busca da Religião,
pois o Hedonismo não está baseado em fatos, mas sim em resultados. O homem quer
a felicidade a qualquer preço, e mesmo que seja ilógica e sem explicação quer
ser feliz. A Religião sempre foi à busca da felicidade, então a Religião revive
ou ressurge na sociedade pós moderna contemporânea, como um vulcão inativo que
ressurge.
Os
Cristãos têm a oportunidade de reformular seus discursos antes defensores
diante da critica cientifica, para um discurso mais espiritual não hedonista,
mas amoroso. Como sempre o Evangelho traz a solução por meio do amor, que traz
a felicidade.