Como teólogo e mestre
em teologia sistemática, eu gostaria de contribuir com a intensa reformulação
de uma teologia que dominou a maior parte da história da Igreja Cristã. Estou
falando da teologia da substituição. Falarei mais neste texto numa visão
histórica critica, sem ser muito aprofundado na biblicidade do tema. Apesar
disto citarei alguns pontos bíblicos. Esta teologia que foi fundamentada no
pensamento agostiniano e posteriormente reformador, forjado na inabilidade de
evangelizar os judeus. Quando digo inabilidade é porque sendo também um
professor na área de história, percebi e constatei que as estruturas que a
Igreja formou, foram se contextualizando as culturas não judaicas, e foram
rejeitando a cultura judaica, até a demonizando. Apesar de boa parte da
liturgia e tradição cristã ter suas bases na cultura e expressão litúrgica
judaica, as estruturas cristãs criaram formas de rejeitar a origem judaica.
Como os judeus não queriam se converter para as formas de cultura não judaica,
pois queriam manter sua expressão judaica, como acontece com praticamente todos
os povos, a missiologia que dominou boa parte da história da igreja cristã,
obrigava aos povos “convertidos” a aculturação a uma cultura européia. Graças
ao Senhor, hoje a Igreja aprendeu a respeitar culturas e não obrigar totalmente
a aceitação da cultura européia, e agora americana. Infelizmente ainda temos
“terno e gravata” em terras tropicais, mas isto é tolerável, apesar de ser
extremamente cansativo.
A teologia da
substituição foi forjada dentro de dois contextos: A Rejeição dos judeus a
instituição ou instituições cristãs e ao principio de dominação com a imposição
cultural. Não consigo ver a teologia se baseando na Bíblia, como deveria ser. Não
vejo a motivação histórica provinda de um intenso desejo de descobrir a
verdade, mas provinda do desejo intenso de impor uma dominação católica e
européia. Pois biblicamente é muito forçoso dizer que Israel foi rejeitado, e
que Deus escolheu outro povo para ficar no lugar de Israel. Sabemos que Deus
nunca muda, e que Ele não deixa de cumprir sua palavra. A promessa feita por
Deus a Abraão foi clara, foi feita para filhos carnais, mas também foi feita a
filhos espirituais. Vemos a promessa dupla, e o cumprimento duplo na história.
Deus nunca deixou de abençoar, os filhos de Abraão, pois os judeus sempre foram
cabeça em todos os tempos. Isto é histórico, apesar de alguns historiadores
quererem esconder a história de Israel. Paulo claramente diz que todos os povos
que crêem em Jesus, o messias, são enxertados em Israel. Ser enxertado não é
substituição, é inclusão. A doutrina da substituição não é bíblica, é
fundamentada em lógica, ou seja, se os “judeus não convertem então a culpa é
que eles foram rejeitados por Deus”. Não seria mais a inabilidade da Igreja de
ter uma metodologia missiológica especifica para judeus? Mas quem disse que
Deus rejeitou Israel, não foi Paulo quem disse isto? O problema é que os Judeus
rejeitavam as estruturas eclesiásticas formadas pelas igrejas influenciadas por
culturas não judaicas. Os Judeus não rejeitavam a mensagem do Evangelho,
milhares, talvez milhões de Judeus ou de seus descendentes se converteram a
Jesus, em toda história, somente Deus sabe deste numero. O que os judeus rejeitavam
era a estrutura cheia de ritos, normas e cultura que eles consideravam
abomináveis ou não aceitáveis no contexto e pensamento judaico. Hoje a Igreja
tem buscado até a cultura judaica, o que questiono em parte, pois não
precisamos de nos judaizar para ficar mais perto de Deus, Deus não é judeu,
apesar de ter se expressado na terra como um judeu. Podemos em cada cultura
manifestar nossas diferenças criando uma multiforme expressão de amor por Deus.
Não quis ser muito
teológico com textos, mas quis chamar a atenção que esta teologia pouco se
baseou na Bíblia, foi mais baseada em ódio e rejeição. Quando Lutero não
conseguiu convencer os Judeus, e no começo de sua reforma, ele era animadíssimo
em converter judeus, ele iniciou sua teologia substitutiva. Porque antes ele
não cria na substituição? Porque somente foi crer, quando não conseguia
converter judeus? Qual foi o ponto de partida para criar a substituição? Não
foi o fracasso na evangelização de Judeus? É certo que respeito Lutero, mas ele
não é Deus, nem é totalmente perfeito, foi como nós, homem e imperfeito.
Lutero, irmão querido, e grande ministro da palavra de Deus, mas influenciado
pela doutrina agostiniana que reinava na estrutura cristã, que ele saiu. Porque
Agostinho formou sua doutrina substitutiva, veja a história e como a igreja
ficou furiosa com os judeus que não aceitavam a doutrina católica. Naquela
época era obrigatório aceitar, quem não aceitava era herege, era digno até de
morte. Quantos judeus foram assassinados e torturados, porque não queriam
aceitar a “doutrina católica”. Mas eles não estavam errados totalmente, muito
da doutrina católica, hoje sabemos que era doutrina de homens, era cultura
grego romana, era sincretismo religioso, era heresia catolicista. E o que
formou nos judeus esta agressividade contra judeus, nos países que dominavam os
chamados “Cristâos”. O que poderíamos esperar como reação de judeus, se os
chamados “cristãos”, não permitiam que eles expressassem sua cultura e sua fé? É óbvio que os judeus passaram muito de sua rejeição para Jesus, como se Jesus
fosse o culpado do erro dos chamados “cristãos”. Louvo ao Senhor, que Ele é
superior aos erros da Igreja, e Ele se revela acima de nossa imperfeição. Ele
tem feito isto aos outros filhos de Abraão, que enganados pelo ensino islâmico,
não aceitam a Jesus como o Deus encarnado, mas somente como um profeta. Mesmo
que a Igreja não fale, as pedras falam. Mas Deus quer falar por meio da Igreja.
E a Igreja não é de Judeus ou de “Gentios”, a Igreja é de Cristãos, como fomos
chamados nos dias de Antioquia. Somos todos “pequenos cristos”, todos nós que
aceitamos a Jesus como Senhor e Salvador, por meio do novo nascimento. Somos
todos o Israel de Deus, o povo de Deus, a Igreja de Cristo.
Hoje espero que meus
irmãos judeus, e posso dizer isto sendo um descendente anusim, possam aceitar o
evangelho de Jesus Cristo, não que formem uma nova igreja ebionista e
fundamentalista judaica. Creio que podemos ser Judeus e “Gentios” (usando o
termo bíblico) com manifestações culturais diferentes, mas com a mesma fé no
Salvador Jesus Cristo, o Messias.
Muito boa palavra.
ResponderExcluirMuito boa palavra.
ResponderExcluir