segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Cosmovisão Ribeirinha e a Construção de Uma Teologia contextualizada

Considerando a realidade que temos visto vivendo entre os ribeirinhos, podemos chegar a algumas conclusões sobre o caminho da construção da teologia local. É fato que todo grupo tem uma cosmovisão baseada em sua cultura e religião. Com a mistura da fé cristã com as crenças passadas pelos povos amazonicos, temos uma forma de pensar que vai dos ditames dos dez mandamentos e dos ensinamentos de Jesus aos mitos e lendas que transmitem uma forma de subsistencia e sobrevivencia, no respeito a floresta e ao rio que dá o sustento, e a criação de uma moralidade que enfatiza a necessidade como a forma mais elevada de respeito ao grupo que pertence. Se a subsistencia desrespeita o rio e a floresta, ela é aceita, mas se a sobrevivencia exige o respeito, os ditos populares são a forma de transmissão da moralidade. Encontro duas formas claras de transmissão de conhecimento, ou de educação das comunidades ribeirinhas, que tem na transmissão oral sua maior forma de aprendizagem: As Histórias (incluindo os mitos e lendas) e os ditos populares (provérbios).
Encontramos na cosmovisão da sobrevivencia o pouco desejo e necessidade do conhecimento formal que é transmitido de forma institucionalizada nas escolas municipais que estão nas comunidades. O ribeirinho tem sua necessidade de ler e escrever, e conhecer as quatro funções básicas da matemática, mas além disto, é quase que desnecessário, pois o mais importante é saber caçar, pescar, cortar madeira e construir com madeira, plantar para subsistencia, retirar da mata os frutos e plantas de alimentação e medicação, e cuidar de filhos. O filho muito educado, é a possibilidade de "perder" para a cidade, ou seja, de ver seu filho indo morar na cidade e deixar a comunidade ribeirinha.
Diante desta realidade estamos no trabalho da construção de uma forma de estudo bíblico que construiria os conceitos do caráter cristão. Temos como base a idéia dos ditos populares, na fixação de conceitos por provérbios e ditos bíblicos.
Em breve anexaremos uma forma de estudo, que está sendo desenvolvida por mim, e pela missionária Gislaine.

O Ungido do Senhor

O Ungido do Senhor

Falaremos em partes este tema. Depois uniremos em uma postagem apenas.
Quem é o ungido do Senhor? Esta doutrina é amplamente defendida como a base para fortalecer o respeito e a obediência aos lideres ou especificamente aos pastores da igreja. Eu mesmo pregava com muita convicção esta doutrina num sentido bem restrito, mas após muitos acontecimentos vividos e observados em outras vidas, comecei a questionar as motivações dos que utilizavam este tema bíblico. Quando digo restrito, quero dizer da forma que eu aprendi. A forma que eu aprendi talvez tenha a forma que muitos aprenderam, especialmente porque em minha igreja na adolescência, o pastor era muito enérgico e não admitia qualquer tipo de opinião contrária a ele. Na verdade as pessoas tinham medo de ir contra as convicções ou opiniões do pastor. Por causa disto a doutrina do “ungido de Deus” era amplamente ensinada como uma forma de impedir qualquer tipo de discordância. Isto não significa que era um pastor ruim, pelo contrário era um homem de Deus, muito zeloso, e muito dedicado ao cuidado do rebanho, além de demonstrar um caráter fiel aos padrões cristãos. Verifico que infelizmente muitos líderes da igreja têm motivações erradas ao aprofundar no tema “autoridade da liderança”. Também verifico que muitos não querem confrontar o erro na liderança, pois para eles isto significaria estar dizendo que o líder é um mau líder, ou que estariam indo contra o próprio Deus. E muitos líderes acham que se forem confrontados, isto significaria o fim de sua autoridade sobre o rebanho, e ainda que os liderados estariam assumindo uma atitude rebelde. Se a repreensão aos lideres fosse não permitida por Deus, nunca poderia ser colocado na Bíblia que Paulo repreendeu publicamente a Pedro, e ainda relatou em sua carta para que toda igreja ficasse sabendo, e que fez isto porque Pedro já era um homem repreensível (Gálatas 2:11 - E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.). Será que nós, os pastores somos repreensíveis, e já chegamos ao nível que Pedro chegou? Vemos claramente que pastores, e até apóstolos podem ser repreendidos, e seu erro pode ser usado como exemplo para ensinamento da igreja. Pedro e todos os homens de Deus da Bíblia são usados por Deus como exemplos dos acertos e dos erros. Deus não esconde os erros dos seus servos na Bíblia, Ele os expõe para mostrar como estes homens usados por Deus são comuns como qualquer homem. Eles não são especiais, são normais, e são necessitados como qualquer homem. Lendo a Bíblia vemos os homens de Deus sendo corrigidos por seus pais, por parentes, por profetas, por inimigos, pelo povo de Deus e pelos povos do mundo, até mesmo por um animal. Martinho Lutero defendeu o sacerdócio universal na igreja, e isto deveria ser lembrado constantemente.
Como tenho costume farei perguntas para sua própria análise pessoal. Faço isto, e não respondo todas as perguntas, pois acredito que a unção de Deus é disponível para cada cristão, e não precisamos de intermediários para que Deus nos fale suas verdades, mesmo que Deus use seus dons para nos aperfeiçoar. Por que alguns líderes usam este tema como um amparo para seu autoritarismo ditatorial? Ou para silenciar os que discordam de sua autoridade ou de sua liderança? Ou para impedir que os liderados verifiquem e investiguem como é seu procedimento moral, social, espiritual e financeiro? Ou ainda para justificar a impossibilidade de “membros comuns” ou como diria o catolicismo, “leigos”, corrigirem, admoestarem, disciplinarem e delatarem os erros do líder? Existem na igreja “membros comuns” e “membros especiais”, ou “clérigo e leigo”? Existem duas classes na igreja?
Então vamos estudar este tema em duas partes: O Sacerdócio Universal e a Autoridade da Liderança. Neste primeiro texto vamos ver o Sacerdócio Universal, que foi restaurado e amplamente pregado após a Reforma Protestante. Na verdade para entender esta realidade, nós temos também que lembrar a doutrina criada na igreja, durante o período que a igreja estava dominada pelo sistema católico apostólico romano.
O Sacerdócio Universal é um tema amplo, mas foi uma das bases da revelação que Martinho Lutero e todos reformistas se embasaram quando lutaram pela reforma da igreja. O objetivo inicial era que a igreja dominada pelo sistema católico fosse reformada, mas infelizmente o sistema era mais forte que o desejo de descobrir e amar a verdade. O sistema manteve seus “dogmas”, ao invés de estar disposta a reconhecer as verdades bíblicas. Infelizmente os sistemas ou organizações que dominam a igreja podem tornar-se tão fortes e inflexíveis que não tolerem mudanças, ou reconhecimento do erro. Isto ainda acontece até nos dias de hoje, inclusive em muitas denominações evangélicas. Muitos esquecem que a Igreja é um Corpo, não uma Organização, e Corpo é um organismo mutante, ou seja, o corpo cresce, modifica, se adapta ao meio, precisa de cuidados, pode enfermar, precisa ser alimentado, precisa ser cuidado, precisa de novos cuidados à medida que os anos passam, a roupa precisa de mudar de acordo com o crescimento do corpo e de acordo com a estação do ano. Esta alegoria pode nos fazer pensar muito sobre a necessidade de haver mudanças na estrutura e vida da igreja.
A igreja após terceiro século começou a se estruturar dentro de uma realidade política que era o império romano. A cultura romana e judaica formou as estruturas e modus vivente da igreja. Aos poucos a liderança da igreja foi tomando uma autoridade parecida com o império romano. A idéia de ter um líder máximo assim como o império que tinha seus imperadores, foi tomando conta da crença geral. A autoridade máxima foi sendo criado embasado numa doutrina que colocava a primazia do apóstolo Pedro sobre todos os outros apóstolos. A idéia que Jesus teria colocado Pedro como a Pedra, foi tomando conta de toda liderança da igreja nascente num sistema hierárquico. No passado não existia esta hierarquização, pois a liderança era de uma forma mais judaica, que seguia um sistema mais congregacional. Sem entrar aqui na discussão da melhor forma ou da forma que seria bíblica, podemos constatar historicamente que a igreja criou um sistema hierárquico que estratificou a liderança e distanciou a liderança dos liderados. Esta distancia foi aumentando a ponto de se criar duas classes na igreja, o clero e o laicato. Esta divisão não é vista no Novo Testamento, e não existe nenhum texto que pode colaborar com esta idéia, apesar da doutrina papal que é discutível e negada pela igreja reformada. A igreja católica foi buscar no Velho Testamento a base para criar duas classes: o Sacerdócio e o povo. No Velho Testamento esta realidade é clara, e real. O Sacerdócio era inclusive passado de pai para filho, era herdado, e não somente uma posição social. Se buscarmos o Sacerdócio do Velho Testamento, o sacerdócio de Arão, temos que também trazer a “herança familiar”, e o sangue apenas dos filhos de Arão, e gentios nunca poderiam fazer parte deste sacerdócio. Como explicar esta realidade, mas ao invés de tentar explicar, é apenas espiritualizado, sem dar muitas explicações. O livro de Hebreus é claro ao falar que Jesus é do sacerdócio de Melquisedeque, que era maior que Abraão, do qual saiu Arão (Hebreus 5:10 - Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque). O Sacerdócio de Melquisedeque é claramente um sacerdócio espiritual, pois como diz a Bíblia, Melquisedeque era sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre (Hebreus 7:3). Como Melquisedeque não era sacerdote porque era filho de algum homem, e seu sacerdócio não se baseava em fatos físicos e humanos, o novo sacerdócio é o sacerdócio que a igreja tem. Assim como Jesus que não era da família de Arão, nem da tribo de Levi, nós a Igreja somos “feitos” semelhantes ao Filho de Deus. Na verdade, nós, a Igreja, por meio do novo nascimento somos feitos Filhos de Deus, e participantes da vida e do ministério de Cristo. O sacerdócio de Melquisedeque é o sacerdócio da Igreja, um sacerdócio baseado na herança espiritual, na ligação sacerdócio e realeza, pois Melquisedeque era sacerdote e rei da cidade da Paz, que espiritualmente mostra a realeza da igreja. O sacerdócio de Arão no Velho Testamento é uma figura do sacerdócio verdadeiro, por isto não pode ser usado como modelo em todos seus aspectos, pode ser usado como figura ou sombra do verdadeiro sacerdócio. Não precisamos usar as mesmas roupas que eles, não precisamos criar um grupo especial. Na verdade o sacerdócio na Igreja é a manifestação da Igreja como sacerdote de Deus na terra, e cada ser humano que nasce de novo, e torna-se Igreja, começa a fazer parte do sacerdócio de Melquisedeque. A divisão que existe na terra é entre a Igreja e o mundo, os sacerdotes de Deus e o povo do mundo que pode ser parte deste sacerdócio, por meio da conversão a Cristo Jesus. O sacerdócio da Igreja não é fechado, como o de Arão, é aberto e convidativo para todos. A divisão criada pela igreja católica é antibíblica e promove a divisão no Corpo de Cristo, afastando os lideres dos liderados. Entretanto esta realidade é uma herança pagã que está na estrutura e na crença de muitas igrejas do Senhor Jesus. Muitas igrejas pós-reforma mantêm esta doutrina separatista, distanciando os lideres ou pastores ou o episcopado dos liderados. A própria ênfase distorcida do ensino sobre o “ungido do Senhor” já é uma manifestação desta doutrina católica que ainda sobrevive, mesmo depois da advertência e ensino dos reformadores do período chamado Reforma Protestante.
Vejamos a base do sacerdócio universal, além do texto de Hebreus que fortalece o sacerdócio de Melquisedeque como o sacerdócio de Jesus e da Igreja. O apóstolo Pedro mostra o sacerdócio da Igreja em I Pedro 2:9 que diz: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” É interessante ver Pedro afirmando que somos um “sacerdócio real”, sabemos que Melquisedeque era sacerdote e rei. Pedro também afirma que somos uma “geração eleita”, ou uma geração espiritual não natural ou de uma geração de carne e sangue, esta geração também é eleita, pois depende de uma decisão, que somente nós podemos fazer por meio de nossa aceitação do Senhorio de Jesus. Pedro também afirma que a Igreja é “nação santa” e “povo adquirido”, mostrando várias realidades espirituais que não vamos abordar aqui, mas vamos apenas citar alguns aspectos: a Igreja tem uma “terra de domínio e hospedagem”, tem uma “língua própria”, tem “um governo”, tem uma “forma de viver” (cultura própria), tem um “nome comum”, tem uma “origem comum”, além de outras realidades comuns.
Pedro afirma que a Igreja é um sacerdócio, e nenhum lugar no Novo Testamento, os apóstolos ou o Senhor Jesus disse que existe uma classe superior de sacerdotes. Todos são sacerdotes diante de Deus, a Igreja é um povo de sacerdotes reais. Portanto a idéia que a liderança é especial, é mais privilegiada que o restante do povo de Deus, é uma mentira e um grande engano. Todos os cristãos são iguais diante de Deus, e não existe uma preferência de Deus por um grupo de lideres, ou de ungidos. Todos nós, Igreja, somos “ungidos” de Deus com a mesma unção. O apóstolo João diz em I João 2:20: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo”; e também diz em I João 2:27: “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”. A unção de todo cristão é igual, e não existe uma unção maior que a do outro, existem dons e ministérios diferentes. E cada um que cumprir seu chamado divino terá os mesmos galardões no céu, os galardões não serão especiais para lideres, e maiores, pois são lideres. Um intercessor que não aparece na Igreja, muitas vezes, ou alguém que pratica hospitalidade e boas ações poderá ter o mesmo galardão, ou até maior, que um líder de projeção na Igreja. Deus nivela todos da mesma forma que Ele faz com ‘dízimos’, veja todos dão o mesmo valor, se são fiéis naquilo que recebem de Deus. Todos que dão dízimos dão dez por cento (10%), e este valor é igualitário. O dízimo de um milionário é para Deus o mesmo valor que o dízimo de um trabalhador que ganha o salário mínimo. Cada um recebeu de Deus talentos, e no valor que recebeu, será o valor que será cobrado. Os textos de I João falam da ‘unção’ que todos os cristãos tem, e esta unção é igual, mas é somente para os que são a Igreja. Os que não são Igreja, ou aqueles que não nasceram de novo não tem esta unção. Então todos os cristãos são os sacerdotes e tem a unção de Deus, portanto todos os cristãos são “ungidos do Senhor”. E Deus adverte em I Crônicas 16:22: “Não toqueis os meus ungidos, e aos meus profetas não façais mal”.

O Ungido do Senhor – parte 2

Esta segunda parte do tema “autoridade da liderança”, que intitulamos: “O Ungido do Senhor”, vamos ver sobre a ‘unção’ que o sacerdócio recebia. O texto final da primeira parte é I Crônicas 16:22: “Não toqueis os meus ungidos, e aos meus profetas não façais mal”, e este texto é o mais usado pela liderança para afirmar a tese de que ninguém pode ‘tocar’ os lideres. Mas somente os lideres são os ungidos de Deus? Vamos começar estudando sobre unção.
Em Êxodo 25:6 diz: “Azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso” e em Êxodo 29:7 diz: “E tomarás o azeite da unção, e o derramarás sobre a sua cabeça; assim o ungirás”. Encontramos no Velho Testamento a figura utilizada por Deus para demonstrar a realidade espiritual que é a “unção”. A unção é o derramamento de óleo ou azeite sobre a cabeça de alguém. Esta cerimônia era uma forma de demonstrar que o “ungido” estava recebendo algo. Mas o que estava recebendo?
O Primeiro objetivo da unção está em Êxodo 29:21 que diz: “Então tomarás do sangue, que estará sobre o altar, e do azeite da unção, e o espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes, e sobre seus filhos, e sobre as vestes de seus filhos com ele; para que ele seja santificado, e as suas vestes, também seus filhos, e as vestes de seus filhos com ele”. Este texto mostra que a unção tem objetivo de “santificar”, mas o óleo da unção está agora ligado ao sangue. O Sangue e o Óleo de unção estão juntos na purificação do sacerdote. Isto nos leva ao Novo Testamento lembrando que o sangue do Cordeiro de Deus que é Jesus junto com o óleo ou a unção do Espírito Santo são a nossa salvação e purificação. Como sacerdotes, somente seremos sacerdotes se tivermos o sangue de Jesus purificando nossas vidas, mas também precisamos do óleo da unção. Em Êxodo 40:9 temos a confirmação do objetivo da santificação: “Então tomarás o azeite da unção, e ungirás o tabernáculo, e tudo o que há nele; e o santificarás com todos os seus pertences, e será santo”.
Depois encontramos o segundo objetivo da unção em Êxodo 40:15: “E os ungirás como ungiste a seu pai, para que me administrem o sacerdócio, e a sua unção lhes será por sacerdócio perpétuo nas suas gerações”. Este é o objetivo mais reconhecido para a unção, mas sem a santificação que é a separação para “uso exclusivo de Deus”, não existe sacerdócio. Encontramos neste texto o objetivo da administração, ou seja, do ministério. A unção também tem o objetivo de capacitar de forma espiritual uma pessoa para uma função no sacerdócio. Como nosso sacerdócio é nossa vida em serviço do Senhor Jesus, todo ministério que um cristão exerce é o exercício do ministério. Para todo cristão poder exercer o ministério que Deus concedeu para ele, é necessária a unção, assim como os sacerdotes no ministério de Arão.
O terceiro objetivo que muitas vezes não é muito percebido nos textos sobre unção, mas é muito reconhecido está em Levítico 21:12: “Nem sairá do santuário, para que não profane o santuário do seu Deus, pois a coroa do azeite da unção do seu Deus está sobre ele. Eu sou o SENHOR”. O texto diz que a unção é uma coroa, e coroa está ligado a reinado. Aqui encontramos a menção do “sacerdócio real”, que foi colocado sobre a Igreja. O objetivo de representar ao Senhor é um dos maiores objetivos da unção que recebemos de Deus, como sacerdotes. Somos os representantes do Santuário, somos os enviados para o mundo. Somos os ‘ungidos’ enviados para intermediar, ou para levar o povo do mundo ao encontro de Deus, através da pessoa de Jesus. Recebemos a unção para representar a Deus nesta terra, este é nosso testemunho e nossa pregação.
A unção tem muitas bênçãos, mas uma que toda Igreja deve sempre lembrar é a que está em Isaías 10:27: “E acontecerá, naquele dia, que a sua carga será tirada do teu ombro, e o seu jugo do teu pescoço; e o jugo será despedaçado por causa da unção”. Todos que tem a unção podem ter seu jugo despedaçado, e isto é cumprido na Igreja por meio de Jesus, pois ele diz: “Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:30).
No Novo Testamento esta unção é o derramamento do Espírito Santo, que também aparece no templo de Jerusalém como o óleo que alimenta a lâmpada do Senhor. Temos o termo ‘unção’ no Novo Testamento em I João 2:20 e em I João 2:27. Nos dois textos vemos a unção que tanto era conhecida pelos judeus, como a ‘unção’ dada a Igreja. Em I João 2:20 diz: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo”, e em I João 2:27: “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”. A Igreja é ungida por Deus, assim como os sacerdotes eram ungidos no tempo da lei. A Igreja tem a purificação, a administração e a coroa que a unção do sacerdócio capacitava aos sacerdotes da lei. A Igreja é o sacerdócio constituído por Deus para ministrar na terra nestes dias, e todos os cristãos são “ungidos do Senhor”.

O Ungido do Senhor – Parte 3

Nesta terceira parte do tema “autoridade da liderança” que estamos estudando, agora de fato vamos falar sobre a relação do “ungido do Senhor” e a liderança. O texto mais usado para relacionar o “ungido do Senhor” com a liderança da Igreja é I Crônicas 16:22: “Não toqueis os meus ungidos, e aos meus profetas não façais mal”. Também encontramos em Salmos 105:15, o mesmo texto que diz: “Não toqueis os meus ungidos, e não maltrateis os meus profetas.” No texto de Salmos fica claro que os “ungidos” e os “profetas” estão ligados ao povo de Deus, pois o contexto é claro nos versículos de 12 a 14. Encontramos, entretanto, uma diferença destacada no texto os que são os “ungidos” e os “profetas”. Sabemos que todos os profetas são também “ungidos”, principalmente num contexto da Igreja. Então entre os ‘“ungidos” podemos encontrar os “profetas”, que no período da Igreja, podem ser chamados de “pastores”, ou os cinco ministérios do Corpo de Cristo. Sei que existe um dilema que não abordarei neste artigo, sobre a função do episcopado e dos ministérios fundamentais, mas mesmo considerando um ou outro pensamento, podemos identificar os “profetas” como a liderança espiritual de Israel, e neste conceito, podemos considerar os pastores (presbíteros, bispos) e os ministérios fundamentais (apóstolos, profetas, mestres, evangelistas e pastores) como a liderança espiritual da Igreja. O ensino específico para os profetas ou a liderança da Igreja é a advertência de “não fazer mal para eles”, mas os “ungidos” que são todos os filhos de Deus, nascidos de novo (Igreja ou Povo de Deus) e que incluem toda liderança espiritual a Igreja, o ensino é “não toqueis”. Os profetas ou liderança espiritual da Igreja devem temer “tocar” os “ungidos”, da mesma forma que todos os outros “ungidos”, que são toda a Igreja, devem temer “tocar” na liderança, mas com um acréscimo, que é “não fazer mal para eles”.
O “Não Toqueis” é uma advertência para toda a Igreja, tanto para quem “toca”, quanto para quem é “tocado”. Mas o que é “tocar”? Colocar a mão na pessoa seria um entendimento literal, mas o contexto demonstra que este “tocar” tem um sentido mais amplo. É óbvio que o texto não está proibindo tocarmos fisicamente um “ungido”, mas “tocar” com um sentido de agressão. A palavra hebraica no texto original dá o sentido de “tocar” como: “ferir”, “alcançar e agredir”, o que demonstra que Deus alerta a qualquer pessoa, que o povo dele não deve ser agredido fisicamente, pois isto trará conseqüências contra quem fizer isto. No contexto dos dois textos citados, a maior ênfase é a agressão física, que era comum quando o povo de Deus, Israel, reagia de forma negativa à vida de santidade dos ungidos e as palavras proféticas dos profetas. Esta reação incluía matar, espancar, apedrejar, aprisionar, e no caso dos profetas era maltratar de forma exemplar. Os profetas eram mais maltratados, pois eram usados por reis, por lideres, ou pelo próprio povo como um exemplo, e porque principalmente eles eram os que manifestavam em palavras as admoestações de Deus. A agressão física não tem sido comum no mundo da Igreja “livre”, mas no mundo da Igreja “perseguida”, a agressão física é mais comum. Muitos dos ungidos do Senhor têm sido “tocados” e profetas “maltratados” no mundo hoje. Alguns violentados, espancados, queimados vivos, torturados, aprisionados, deixados passando fome e frio, e mortos. Estas muitas formas de “tocar” os “ungidos do Senhor” eram mais comuns na época em que a lei viva sobre a tutela do “olho por olho” e “dente por dente”. Hoje muitos da Igreja do mundo “livre”, que tem muita pressão da perseguição com agressões físicas, não conseguem entender a realidade de que a Igreja é odiada pelo sistema do mundo, por Satanás e seu reino, e por todos que não desejam a santidade de Deus, mesmo dentro da Igreja. Por isto é comum muitos quererem levar a palavra “toqueis” para um sentido apenas psicológico e não físico. A palavra está mais ligada à agressão física, mas sem dúvida uma agressão psicológica pode ser considerada “ferir e alcançar para agredir”, pois nosso corpo é fisicamente afetado por “agressões psicológicas”, e muitas vezes podem produzir “feridas” muito maiores que as físicas.
Diante da realidade do contexto, não deveríamos usar de forma tão ampla e comum o texto para amparar a doutrina de autoridade da liderança. Existem outros textos que mostram o respeito e a submissão a liderança, mas infelizmente este texto tem sido usado para amparar a autoridade de lideres da Igreja que abusam de seu poder para dominar e abusar, ou até “tocar” os “ungidos” de Deus com seu domínio abusivo.
Em Zacarias 4:14 encontramos a mesma palavra hebraica para “ungidos” que diz: “Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra”. Neste texto vemos mais uma característica do “ungido”. Estes dois “ungidos” são como “vasos” ou “vasilhas” comunicantes. Que os “ungidos” sejam canais de unção do Altissimo.
Um último fator que gostaríamos de considerar, é que os textos da Bíblia são escritos primeiramente para o próprio povo de Deus. Então este alerta tem sido principalmente para a Igreja que não deve “tocar” os “ungidos” e não deve “maltratar os profetas” ou a liderança espiritual da Igreja. O Senhor Deus não faz acepção de pessoas e não tem um grupo especial que Ele trata de forma mais cuidada no Corpo de Cristo, ou no Povo de Deus. Deus tem o mesmo amor por todo membro da Igreja. Um líder não é maior do que um liderado, mas o líder tem uma função diferente, que merece o respeito e a submissão dos liderados. Entretanto “discordar”, “questionar”, “denunciar erros”, e “não obedecer a todas as ordens”, não significa em todos os casos como rebelião, ou desrespeito a liderança. Muitos lideres usam os textos estudados para “calar”, para impedir os liderados de ter opinião diferenciada, de impedir que liderados possam denunciar os erros dos lideres, de questionar para sanar suas dúvidas. Mas também devemos lembrar que quando falamos que estes textos não são a maior forma de provar a autoridade da liderança, mas apenas uma parte desta realidade espiritual, eu não quero aprovar as atitudes de “maltrato” que muitos no povo de Deus têm promovido contra sua liderança. A liderança da Igreja deve ser amada e cuidada, e isto pode incluir corrigir a liderança, mas como se corrigisse um “pai”, com respeito e amor.
Então não vamos “tocar” ou “maltratar”, vamos amar, dando toda liberdade que a Graça concedeu ao Povo de Deus, e toda submissão que o Senhorio de Cristo exige de sua Igreja. Lembremos sempre que obediência plena nós temos apenas para com o Senhor, mas a submissão é devida a todos os que são autoridade sobre nós, começando pelos pais. Submissão é sob a missão.