segunda-feira, 10 de junho de 2013

Amor "Pervertido"

Eu convivi com um grupo de cristãos que criaram uma conceituação sobre o amor. Farei então um estudo de caso, criando uma apologética bíblica. Farei esta análise através de uma análise lógica, mas baseada não em conceitos humanistas, baseado nos conceitos que estão na Bíblia. Este conceito de amor que este grupo prega não demonstra um embasamento bíblico, mas demonstra uma lógica que eles desenvolveram num contexto fundamentalista de influência norte americana. Talvez possa auxiliar outros que estejam sendo influenciados por estes conceitos fundamentalistas de linha mais extremista e ufanista. Este conceito de amor busca a comprovação de que o amor pode ter uma demonstração “pervertida”. Apesar de a palavra “perversão” poder estar ligada a ideia de impureza sexual, o que de forma inconsciente, este conceito pode levar uma reação muito negativa e até com uma grande rejeição. A única ideia de perversão que podemos considerar como bíblica é a que está ligada ao conceito da “degradação do perfeito”. A perversão então seria que “uma criação original ou perfeita, por algum motivo se torna imperfeita ou destituída do estado original”. Considerando o conceito de que perversão é a modificação do estado original, podemos relembrar o grande conceito bíblico da criação, que foi criada perfeita, e com a “queda” ou a “entrada do pecado no mundo perfeito”, este pecado perverteu o estado original. Neste caso o original não precisa perder características de sua originalidade perfeita, mas sim obter características diferentes, e imperfeitas, ou ainda, fora do padrão de Deus. Ainda considerando esta linha de pensamento, podemos até pensar na possibilidade que esta tese pode ser bíblica, pois seria o pensamento que alguém poderia ter um “amor imperfeito” ou um “amor fora do padrão de Deus”. Se, entretanto, o conceito de perversão criar um pensamento de “impureza sexual”, este “amor pervertido” teria que ser um tipo de amor sexual, não emocional, mas ligado ao desejo sexual. O que observei no grupo citado é que o conceito está ligado no contexto deste grupo, a todo tipo de amor entre pessoas. Então é um amor relacional, e não físico. Portanto não poderia ser uma perversão sexual, no sentido de impureza sexual ou de prática sexual pecaminosa. Este poderia até ser parte deste conceito, mas não a totalidade, e somente poderia ser usado se tivesse uma comprovação de pecado sexual ou de desejo sexual pecaminoso. Não observei neste grupo que esta é uma compreensão bíblica, mas apenas oral, ou seja, é uma compreensão transmitida pela lógica do grupo, não pela fé em uma parte das Escrituras Sagradas. Infelizmente muitos dos cristãos não baseiam sua fé na Bíblia, mas numa lógica de uma liderança que diz ter tido a compreensão ou revelação bíblica. Neste caso nem é necessário provar esta “lógica bíblica” ou “doutrina bíblica”, pois a confiança na liderança é o fator gerador da fé, não a fé no que a Bíblia diz. Os cristãos de Beréia foram considerados mais “nobres”, porque buscavam sua fé na Bíblia, não na oralidade de Paulo, que era um apóstolo, e foi até um dos escritores da Bíblia. É de se destacar que eles confirmaram a palavra de Paulo, nos escritos do Velho Testamento, pois ainda não tinham o Novo Testamento, nem ainda o reconheciam como Bíblia. A aceitação de um conceito sempre deveria ser conforme a Bíblia, não “em cima” de uma revelação pessoal do líder, deveria sim ser a revelação pessoal do cristão, que convictamente entende as bases bíblicas. Diante desta introdução gostaria de rever este conceito, pois a minha pergunta é: “O amor pode ser pervertido?” e ainda outro pensamento, “O amor pode permanecer no ser humano após a degeneração do pecado?” Estamos diante de uma reflexão muito profunda, e até fundamental, pois muitos dizem que somente existe amor, se for cristão. O não cristão não pode ter amor? Para o grupo acima citado, na lógica deles, seria óbvio que a resposta seria que os não cristãos podem ter um amor, pois o amor pode ser pervertido, contudo é interessante que observei que neste grupo apesar da lógica determinar uma resposta em seqüência do pensamento reinante, não segue a lógica a resposta produzida, pois dizem que “somente cristão tem o amor”. Talvez a lógica seja que o não cristão não tem o "amor de Deus" e o cristão que tem o amor verdadeiro, pode ter uma perversão de relacionamento com alguém, e assim este amor ser pervertido. Neste caso então o amor não estaria no amor, mas no relacionamento. Se este fosse o caso, então o problema seria acertar ao relacionamento. Aqui podemos então buscar uma lógica neste grupo, e é interessante observar que eles ainda afirmam que existe o amor de Deus, que seria outro tipo de amor. Então haveria mais de um tipo de amor? Alguns teólogos buscam na etimologia da palavra amor, no Novo Testamento uma tese parecida ou até tenha sido a base deste raciocínio, é a tese dos três tipos de amor. Como a Bíblia no Novo Testamento foi escrita em grego, a língua grega tem três palavras para definir este sentimento ou emoção que é traduzida por amor, na língua portuguesa. São as palavras gregas: “Eros, Fileo e Agápe”. Eu sou um destes teólogos que consideram a revelação divina por meio de etimologia de palavras. As três palavras significam: Eros é o amor físico, ou seria mais uma paixão carnal e atração sexual; Fileo é o amor fraterno, ou amor determinado pela relação humana, por exemplo amor entre amigos, amor entre familiares, amor entre pessoas de um mesmo grupo social; por fim, temos o Agápe que é o amor divino, um tipo de amor que independe de um relacionamento, ele é proveniente de uma decisão de amar, e além disto provêm de uma influência direta de Deus. Neste caso este último amor somente poderia existir através de um relacionamento com Deus, o que nos levaria a concluir que somente um amor poderia ter o amor ágape. Mas os outros tipos: Eros e Fileo podem estar em pessoas que não tem relacionamento com Deus, pois seria um amor natural, baseado então no laço físico (corpo), ou no laço psicológico (alma). Poderiamos ter aqui uma ligação natural e uma sobrenatural, chamaríamos também de física e espiritual. O amor ágape seria então espiritual, mas proveniente de uma decisão natural, que está na alma do ser humano. Diante da tese dos três tipos de amor, a idéia que o amor somente está em Cristãos poderia ter um embasamento, considerando apenas o ágape, e este ágape não poderia jamais ser “pervertido”. Mas o amor fileo e eros poderia ser pervertido, ou melhor ser modificado de seu estado original, quando o homem foi criado. Seria então um amor que perdendo seu alvo original colocaria seu objeto de desejo (Eros) e de relacionamento (filéo) na pessoa “amada”. Neste caso este tipo de amor seria uma idolatria, tirando Deus do centro da vida do “pervertido”. Mas nunca poderia esta perversão afetar o amor ágape que provem de Deus, pois “Deus é amor”. Aqui também podemos responder que o amor Eros e Filéo estão no ser humana antes da regeneração em Cristo, e depois também. Mas o amor ágape somente pode ser experimentado através de um relacionamento com Deus. Aqui ainda poderíamos repensar o que é um relacionamento com Deus, seria apenas o novo nascimento ou melhor após o novo nascimento? Não seria antes, como o caso de Cornélio um gentio, centurião romano, que demonstrava um tipo de amor, senão parecido, talvez o próprio amor ágape. Não teria o homem a experiência de sentir o amor de Deus, quando se aproximasse dele, e então somente poderia permanecer com este amor, quando deixasse Deus ser o Senhor absoluto de sua vida, através da habitação do Espírito Santo? Creio que sim. Creio que a habitação é o fator gerador da permanência do amor de Deus, pois o Espírito Santo é Deus, e Deus é amor. Então temos o amor de Deus morando permanente em nós. Mas qualquer um que se aproximasse de Deus, e tivesse uma experiência, que pode não ser o novo nascimento ou conversão a Jesus, ainda poderia sentir o amor de Deus, e ainda poderia demonstrar este amor, pela influencia direta de Deus. Deus pode usar uma “mula”, como o caso de Balaão, então pode muito mais usar um ser humano, mesmo não regenerado, com seu amor fluindo através dele, o ser humano. Estudar o amor de Deus é uma reflexão a parte, e o faremos em outro texto. Muitos homens podem ter agido na humanidade usados ou influenciados pelo amor de Deus nestes homens, quando isto acontece é sobrenatural e também produz efeitos notáveis, que aproximam os seres humanos de Deus. Mas este amor de Deus, ou amor ágape pode demonstrar rejeição e medo? Com certeza o amor ágape não pode mostrar medo, pois a Bíblia diz que o “verdadeiro amor lança para fora o medo”. O medo não pode se relacionar com o amor de Deus, então quem demonstra medo quando se aproxima de outra pessoa, não está amando esta pessoa. Não teremos medo de pessoas que amamos, podemos ter cuidado ou zelo por esta pessoa que pode nos fazer mal, contudo medo não será nosso motivo gerador de afastar desta pessoa, será sim o amor este motivo. Afastamos-nos então de pessoas porque o amor assim nos orienta, para nosso bem? Não para o bem deles? Neste caso somente nos afastamos se o amor nos orientar a guardar a pessoa amada de um mal maior, como nos agredir ou agredir a si mesmo. Mas se a pessoa não quer agredir, ou se deseja estar conosco, porque nos afastar do amado? Chamo atenção a isto, pois o referido grupo que utiliza a idéia do amor pervertido, também tem a idéia de que os parentes devem deixar os parentes, quando estes parentes deixam o grupo. Usando textos como “quem não deixar pai e mãe por amor a mim, não é digno de mim”, o grupo promove quebras de relacionamento entre parentes; pais e filhos, irmãos, filhos e avós, etc. Poderia o amor ser promovedor de uma divisão? Ou ainda poderia o amor promover o total corte de relacionamento? Aqui estamos diante do tema da pergunta anterior não respondida: O amor pode rejeitar? Então vamos falar sobre o amor rejeitado.